Calunia /1
Apesar de parentes próximos, o ato de fofocar é diferente do ato de caluniar. Fofocar significa intrigar. Caluniar consiste em difamar fazendo acusações falsas ou atribuindo falsamente a alguém fato definido como crime. Na calúnia, portanto, há violência maior.
A agressão física já é claramente identificada como negativa ao convívio entre as pessoas. Há consenso no sentido da necessidade de se conter e coibir os agressores. Nossa cultura está prestes a identificar também na calúnia uma agressão que pode e deve ser coibida e contida. Mas ainda não chegamos lá. Ainda procuramos negar e esconder este fenômeno quando dele somos vítimas. Sentimos vergonha de ser caluniados quando vergonha seria adequado sentir aquele que gera a falsa acusação. Por vezes, até mesmo nos submetemos ao caluniador do grupo em que convivemos.
Afirmativas como “onde há fumaça há fogo”, em verdade são armas utilizadas pelos caluniadores. O correto é: “onde há fumaça há um caluniador”. Para bom entendedor, quem está sendo exposto não é o caluniado, mas sim o caluniador: revela-se e desvenda um interior conflitado.
O caluniador é uma pessoa que está com sofrimento interior. Quem estã de bem com a vida não tem sequer vontade de caluniar, quer apreciar as coisas boas da vida.
Por vezes, as pessoas lidam de forma inadequada com suas perturbações. Por exemplo, passam a ingerir muita bebida de álcool. Ou mergulham num mundo imaginário e afastam-se da vida real. Outra forma inadequada é a calúnia. O caluniador procura transferir seu desequilíbrio para outra pessoa. Lançando uma calúnia ele percebe que o interior da pessoa atingida começa a se desorganizar. Para que isso ocorra, a calúnia deve ser impactante, deve penetrar no interior da vítima e estourar como uma bomba. Portanto, agora quem está desequilibrado é o outro e não mais ele. Ou há mais alguém perturbado e em sofrimento como ele.
Como este artifício é fantasioso, não promove um alívio duradouro ao caluniador, como um vício ele sente necessidade de repetir e repetir o ato de caluniar. É uma falsa saída para seu desequilíbrio. É como se alguém pegasse o lixo de sua casa e jogasse no pátio do vizinho. Por alguns momentos tem a sensação de estar limpo. Mas o lixo reaparece na sua casa, pois ela é geradora de lixo.
Existem dois tipos de caluniador: aquele que calúnia sistematicamente e aquele que o faz num momento em que sua vida não vai bem.
E existem também as pessoas que levam adiante a calúnia gerada por outro. É um fenômeno que acompanha a humanidade desde sempre. Um dramaturgo romano, Plauto, escreve em uma de suas peças: “Os que propalam a calúnia e os que a escutam, se prevalecesse minha opinião, deveriam ser enforcados, os primeiros pela língua e os outros pela orelha”.
Brincadeiras à parte, temos de aprender a lidar com este fenômenos. Todos estamos sujeitos a ele. Scheakespeare escreveu: “Mesmo que sejas tão puro quanto a neve, não escaparás à calúnia”.
A recuperação de quem sofre a calúnia se faz a medida em que a pessoa não se submete ao fenômeno, encara-o de frente, conversa com seus amigos. Preserva sua auto-estima, desvinculando-se desta agressão verbal e psicológica da qual está sendo vítima. Poderá buscar ajuda profissional numa psicoterapia de cura duração de tipo Interpessoal.
Aquele que se percebe gerando calúnia, também se beneficiará de uma ajuda profissional para procurar lidar de uma maneira mais eficaz com seus desequilíbrios.
(Jorge Alberto Salton)