Capacidades da mente: ASMOCPLIAC
CAPACIDADES OU FUNÇÕES MENTAIS
ATENÇÃO
São duas as qualidades fundamentais da atenção: 1. Vigilância: capacidade de dirigir a atenção a um novo objeto/estímulo; ou seja, de prestar atenção aos novos estímulos do meio; 2. Tenacidade: capacidade de manter a atenção voltada para um estímulo, fato ou tarefa; é a capacidade de concentração. Nesta aula, por exemplo, nós estamos sendo tenazes, ou seja, estamos conseguindo concentrar nossa atenção sobre o conteúdo, ou seja, o estudo das funções mentais. Porém, quando entra alguém novo na sala, nos percebemos, ou seja, estamos também vigilantes aos novos estímulos.
As alterações são: hipo ou hipervigilância, hipo ou hipertenacidade. Há pacientes que, por exemplo, estando num quadro maníaco, com a mente acelerada, apresentam-se hipervigilantes e hipotenazes. Ou seja, vão pulando de um estímulo para outro muito rapidamente. Sua conversa poderia ser mais ou menos assim: "Professor, essa atenção que o senhor fala não se refere a das placas de sinalização? Atenção, animais na pista! Eu nunca gostei muito de animais, aliás, sou um sujeito urbano. Animais só em zoológico ou no cinema. O senhor viu o Clube da Luta? O ser humano também é um animal. Filme, filme mesmo eu gostei do Sexto Sentido. Gosto mais ainda é do Shoping onde está o cinema. As mulheres que andam por lá... O senhor tinha de ver. O senhor só anda no hospital, não é? Se bem que o ensino agora é mais ambulatorial. Eu gosto mais de aula prática do que de aula teórica...".
SENSOPERCEPÇÃO
Trata-se da capacidade mental de sentir e perceber o meio. Sensação + percepção. Sensação: o trajeto que vai desde a recepção sensorial do estímulo até sua chegada à célula cortical. Percepção: a transformação que esse estímulo sofre ao converter-se em fenômeno psíquico. A percepção é o fenômeno psíquico pelo qual a sensação faz-se consciente. Duas alterações qualitativas nesta função são muito importantes: ilusão e alucinação. A primeiro ocorre na presença de um estímulo/objeto externo. A segunda ocorre na ausência de um estímulo/objeto externo. Ilusão é, portanto, a percepção distorcidade de um estímulo/objeto. Alucinação é a percepção de um estímulo/objeto na ausência dele. Um exemplo de ilusão: o paciente diz que em meio ao barulho do motor do ônibus ouve vozes que o acusam de frouxo. Outro paciente, exemplo de alucinação, afirma que ouve vozes que o acusam de ser homossexual esteja aonde estiver, ou seja, sem estímulo externo nenhum. As alucinações e as ilusões serão auditivas, olfativas, gustativas, visuais, táteis e cinestésicas ou motoras. Neste último tipo, o paciente crê efetuar movimentos, sente-se erguido ou que lhe estão levantando um membro, por exemplo.
MEMÓRIA
Memória é a capacidade de fixar, conservar, evocar e reconhecer um estímulo. Duas destas etapas devem ser bem observadas: a fixação e a evocação. Os distúrbios da memória podem ser divididos em quantitativos e qualitativos.
Quantitativos: hipermnésia, dismnésia, hipo e amnésia.
A hipermnésia a princípio é uma boa qualidade. Porém, nem sempre. O paranóide apresenta uma hipermnésia seletiva: acumula tudo que é detalhe que possa lhe servir de apoio a idéia delirante de que é, por exemplo, vítima de uma conspiração.
Na dismnésia o paciente esquece alguns fatos de forma total, outros de forma parcial e outros não esquece. Como o derramar de tinta sobre a areia: impregna totalmente algumas partículas, parcialmente a outras e não atinge as demais.
Na hipomnésia e na amnesia, encontramos ou uma diminuição ou a perda total da memória. Devemos observar se é um problema na fixação ou na evocação. Ou se é tanto numa como noutra. Hipo ou amnésia de fixação ou anterógrada: o paciente não consegue lembrar de fatos recentes embora refira-se com precisão a fatos ocorridos no passado, até mesmo em sua infância. Desde o momento que ele teve prejudicada a capacidade de fixar ele não lembra. Antes disso lembra tudo. Em geral indica a presença de quadros cerebrais orgânicos, como a demência, por exemplo. Um tipo especial é a amnésia lacunar. O paciente não fixa um determinado período. Por exemplo, bebeu muito e não lembra onde deixou o carro, o que fez. Nunca irá lembrar. Hipo ou amnésia de evocação ou retrógrada: neste caso, o paciente fixou tudo normalmente, mas não consegue evocar. Indica, em geral, a presença de problemas emocionais que lhe impedem de evocar certas lembranças ansiogênicas.
Qualitativos:já visto ("dejà vu"), nunca visto, ilusão de memória e alucinação de memória.
Dejà vu, como o nome diz, implica na sensação de já se ter vivênciado algo que, em verdade, está a ocorrer pela primeira vez. Ocorre quando a situação presente encontra uma relação associativa com uma experiência anterior inconsciente reprimida.
Nunca visto é o contrário: o paciente crê nunca ter visto algo que, em realidade, já vivenciou. A situação fixada na memória foi intensamente reprimida por estar ligada a associações de conteúdo muito desagradável ao indivíduo.
Na ilusão de memória vemos a evocação deformada de um fato, influenciada por suas emoções. Em grau menor: o pênalti a favor de nosso time não marcado. Em grau maior: na paranóia, para corroborar interpretação delirante.
Na alucinação de memória, também chamada de confabulação, o paciente evoca algo que nunca fixou. Preenche o vazio da memória por história imaginada as quais conta como verdade. Vi, certa vez, um médico, numa atitude inadequada, dizer para um paciente hospitalizado: "Então, lhe liberei para passar o fim de semana em casa descançando e o senhor foi para uma pescaria!" O paciente, que não lembrava por que não fixava, em dúvida, preencheu o vazio contanto uma imaginária pescaria, ele que nem havia saído do hospital.
(Leia EM MUITOS TEXTOS o artigo FILME - AMNÉSIA)
ORIENTAÇÃO
A orientação funcionando adequadamente nos permite em cada momento de nossa vida, ter consciência da situação rela em que nos encontramos. É o processo pelo qual captamos nossa identificação e o ambiente em que nos encontramos. Depende faz funções: atenção, sensopercepção, da memória e da consciência.
· Autopsíquica: Refere-se a própria pessoa. Saber seu nome, idade, local onde mora, profissão, etc.
· Alopsíquica: Tempo (ano, mês, dia, turno do dia) e espaço (lugar onde se encontra).
Portanto, o indivíduo normal está auto e alopsiquicamente orientado.
CONSCIÊNCIA
Chamamos de consciência a capacidade de perceber o cenário em torno de si e em perceber que se está dentro do cenário. Con + scientia. Do latim: reunião de conhecimentos. Consiste na percepção/conhecimento que um organismo tem de si mesmo e daquilo que o cerca. A capacidade de tornar-se ciente do cenário e de que se faz parte dele. No sono sem sonhos nossa consciência está inativa. Ao acordarmos vamos nos dando conta do cenário e de que estamos nele. Assemelha-se ao momento em que se ilumina um palco. Além do sono sem sonhos, a consciência está inativa em anestesia geral, no estado de coma e em certas doenças que lesam o cérebro.
Pode ocorrer: (1) Diminuição da consciência; (2) Ausência total de consciência; (3) Estreitamento de consciência.
No estreitamento na consciência seu campo diminui, se restringe a determinada direção; por exempo, o boxeador "grogue" que pode se defender e dar golpes, seguir as regras do pugilismo, mas é incapaz de qualquer outra coisa, inclusive retirar-se para seu campo. Na hipnose, a consciência se restringe à voz do hipnotizador.
A consciência pode também ir diminuindo, sendo rebaixada gradualmente até o completo obscurecimento. Graus de obscurecimento: obnubilação, confusão, estupor e coma.
· Obnubilação: Estão prejudicadas as funções atenção, sensopercepção e memória. É necessário sacudir o paciente, falar alto e várias vezes, para que consiga entender nossa pergunta.
· Confusão: É um grau mais acentuado que a obnubilação, incluindo também prejuízo na orientação.
· Estupor: Aqui, além das funções já citadas nos outros graus, está prejudicada a função pensamento. O paciente está imóvel, parece nem sequer conseguir pensar.
· Coma: É a abolição completa da consciência. Esse quadro deve ser diferenciado da Sindrome do Encarceramento (Locked-in Syndrome) que resulta de uma lesão semelhante a causada pelo coma. Porém, como a localização exata da lesão é diferente, não há perda da consciência. A lesão ocorre na parte anterior do tronco cereb ral e não na parte posterior. E como as vias que levam sinais motores a todo o corpo se situam, com uma única exceção, na parte anterior do tronco cerebral, os derrames que acarretam a Sindrome do Encarceramento destroem essas vias e assim impedem toda a possibilidade de movimento, com excão das vias que controlam o movimento ocular vertical e o piscar de olhos., pois elas percorrem separadamente a região posterior do corpo. A pessoa está consciente e apenas tem esses movimentos para se comunicar. A propósito, assista o filme O Escafandro e a Borboleta.
A consciência pode ser dividida também em:
(A) Básica ou central ou simples;
(B) Ampliada.
Na consciência básica ilumina-se o cenário e não se coloca nele nossa memória. Ou seja, é apenas o aqui agora. O indivíduo percebe que ele está no cenário. Por "ele" me refirou ao seu self, ao seu eu interior, a sua alma, ao seu espírito. Não importa o nome que vamos dar. Como a memória não é trazida para o cenário, esse self só é percebido como presente mas não se sabe nada de seu passado e de seu futuro. O self interage com os objetos presentes no cenário, mas não interage com sua própria memória.
Na consciência ampliada, a memória é trazida para o cenário, para o "palco iluminado". Meu self torna-se autobíográfico. Sei do meu passado e do meu futuro. Sim meu futuro está na memória, lá está armazenado o que eu planejei fazer amanhã, nos próximos anos, etc.
Certas doenças do cérebro, provocam a perda da consciência ampliada. No Alzheimer, por exemplo, o indivíduo perde ela. Só vive no aqui agora. Ilumina o palco, percebe-se nele, porém não traz para ele nem o passado nem o futuro. O self não é mais autobiográfico. Mais adiante, pode perder a noção de self. Vive apenas como um organismo que não tem eu interior.
(leia mais nos textos: "Consciência" e "Fantasma da máquina")
PENSAMENTO
No início, tudo se resumia a instinto e hábito.
No processo de evolução, o cérebro consegue representar na mente um objeto. A esta representação se segue outra e assim sucessivamente. Por associação as representações acabam uma chamando outra. Aos poucos, superpondo-se aos instintos e aos hábitos, o cérebro desenvolve uma nova capacidade, a capacidade de pensar.
O pensamento primitivo, portanto, consiste basicamente na sucessão de objetos representados no cérebro que vão fluindo uns encadeados nos outros.
A associações se processam na mente por:
· Lei da contiguidade espacial: duas ou mais idéias se associam porque correspondem à fatos ou estímulos recebidos no mesmo lugar. Se nos recordamos do céu, pensamos logo em estrelas. A lembrança da escola é acompanhada da imagem de alguns colegas.
· Lei da contiguidade temporal: duas ou mais idéias se associam porque correspondem a fatos e estímulos recebidos no mesmo momento. Por exemplo, raio com trovão.
· Lei da semelhança externa: duas ou mais idéias se associam porque correspondem a fatos ou estímulos que se parecem. Uma baleia nos faz pensar num golfinho. Na antiga mesopotanea tentava-se curar a icterícia de um enfermo atando ao leito do mesmo um galo de cor amarela para que atraísse sobre si o amarelo do doente.
· Lei da semelhança interna: duas ou mais idéias se associam porque correspondem a fatos ou estímulos recebidos que tem para o indivíduo o mesmo valor intrínseco ou despertam o mesmo sentimento. Lobo e onça, ambos despertam medo, ambos são agrupados em nosso cérebro como animais selvagens perigosos.
Associando por contiguidade e por semelhança vamos agrupando algumas representações, separando outras, vamos organizando-as em nossa mente, vamos pensando.
O conteúdo do pensamento primitivo se restringia aos elementos presentes captados pelos sentidos naquele momento (aqui e agora): a fruta que estava no galho a sua frente, o cheiro de carniça, etc. Ou seja, o pensamento era exclusivamente concreto.
Porém, as associações gradativamente vão sendo incorporadas à memória e a elas se recorre mais adiante. Ou seja, aos poucos, do pensamento exclusivamente concreto na base do aqui e agora, se desprende o pensamento abstrato. Esta forma de pensar vai além do que está sendo captado naquele momento pelos órgãos dos sentidos, opera incorporando elementos não presentes no campo da percepção. Volta no tempo, associa com representações armazenadas na memória vividas em tempos passados, surgindo no processo de pensar a dimensão temporal. Através do pensamento abstrato é possível nos desvincularmos totalmente dos elementos que estão sendo captados naquele momento. É como se viajássemos para outros espaços e outros tempos.
Em medicina, estudamos o pensamento observando suas três áreas:
A – PRODUÇÃO OU FORMA DE PENSAMENTO
Em outras palavras: como se produz este pensamento, que forma ele adquire? Lógica? Mágica? Lógica se baseada na realidade. Mágica se baseada nas nossas fantasias e imaginações.
A lógica, inclusive, é a denominação dada a parte da filosofia que estuda os meios de se chegar ao conhecimento verdadeiro. O pensamento humano, óbviamente, é um ato natural, espontâneo, dispersivo. Os filósofos, por sua vez, procuraram desenvolver uma organização na forma de pensar que permitisse ao ser humana conhecer mais e melhor a realidade do que ocorria em sua forma expontânea de pensar. Ou seja, desenvolveram o pensar científico. Os filósofos se perguntaram: "Se com nosso pensar expontâneo já conseguimos conhecer bastante a realidade que nos cerca, organizando, disciplinando nossa forma de pensar não obteremos muito mais conhecimento?" Ou seja, deveríamos desenvolver um método (meta = através de; odos = caminho; portanto, método = caminho através do qual se chega a um objetivo). O método científico de pensar consiste em organizar e aprimorar ao máximo qualidades já existentes no pensamento humano porém utilizadas de forma dispersiva. Ou seja, organizar e aprimorar a parte lógica de nosso pensar, aquela que se liga na realidade. Estas qualidades são:
· Definição: Consiste em colocar em palavras a essência de uma coisa (ser, objeto, idéia). É um recurso de expressão que utilizamos para transmitir o que é que queremos dar a entender quando empregamos uma palavra ou nos referimos a um objeto ou ser. A todo instante estamos nos colocando frente a definições: "O que é isso?" "O que é aquilo?" "O que você quis realmente me dizer?" Ou seja, estamos constantemente definindo. Lembremos Platão: "A palavra precisa concordar com o fato".
· Classificação: Consiste em distribuir os seres, as coisas, os objetos, os fatos ou fenômenos em acordo com suas semelhanças e diferenças.
· Análise: É a decomposição de um todo em suas partes. Como quase tudo é muito complexo, para se entender algo é necessário discriminar, dividir, isolar as dificuldades para resolvê-las. O espírito analítico volta-se para a diferença entre os objetos, é detalhista e busca a exatidão.
· Síntese: É a reconstituição do todo decomposto pela análise. Busca uma visão do conjunto e apoia-se nas semelhanças entre os seres, fatos, fenômenos e idéias. Análise e síntese são processos inversos mas complementares e estão na base de todos os métodos científicos.
· Indução: Processo que vai do particular para o geral, do conhecido para o desconhecido, dos fatos para as leis, do efeito para as causas, de várias verdades particulares chega-se a uma verdade geral ou lei científica, de uma amostragem válida estende-se o resultado a toda uma população por inferência, por ilação. Por exemplo: uma empresa vai lucrar mais patrocinando o time de futebol do Corínthinas ou o do Internacional? A empresa prefere vender mais para os paulistas ou para os gaúchos? Qual o clube tem maior torcida? Qual das torcidas tem maior poder aquisitivo? Qual das torcidas se interessaria mais pelos produtos da empresa? Qual clube aparece mais na mídia? Enfim, o processo vai da observação de fatos particulares até chegar a verdade geral. Uma "pérola" do pensamento indutivo: em 1666 Newton intui que do galho enfraquecido a maça é puxada para a Terra que é maior que a maça; a Lua é puxada para a Terra que é maior que a Lua. Conclusão: os corpos maiores atraem os menores. Depois, conclui por uma lei mais simplificada: os corpos se atraem.
· Dedução: O processo mais comum que vai da generalização para a especificação. Por exemplo: "Todo o brasileiro entende de futebol. Jorge Alberto é brasileiro. Jorge Alberto entende de futebol". Estamos tão habituados à dedução que muitas vezes pulamos a argumentação e vamos direto a conclusão. Cito como exemplo a pessoa que vai ser entrevistada tendo em vista obter um emprego. Minutos antes sente-se um pouco tonta. Imediatamente vai a lancheria próxima e toma um refrigerante. É possível que nem tenha tido consciência do processo que fez. Se perguntado, talvez responda que sentiu vontade de tomar um refrigerante. Seu raciocíneo, em verdade, foi complexo e essencialmente dedutivo: "Sinto-me um pouco tonto. Uma vez experimentei sensação parecida e conclui estar com hipoglicemia. Devo estar com hipoglicemia de novo. Quem está com hipoglicemia deve ingerir açúcar. Tenho poucos minutos para entrevista. Um refrigerante é algo com açúcar que posso encontrar e beber rapidamente".
No processo de descoberta de uma lei natural, dirigimo-nos do particular para o geral: indução. Obtida a lei, ao aplicá-la, dirigimo-nos do geral para o particular: dedução. Por exemplo, L. Auembruggerr (1722-1809) publicou um livro ao qual deu o nome de Inventum Novum. O invento que descreve é o método de percussão direta do tórax. Observara na infância seu pai batendo nas barricas de vinho para concluir pelo som mais abafado o nível de vinho contido. Por indução conclui que sempre que houver líquido num recipiente fechado, o som da percussão será mais abafado do que onde houver ar (do particular para o geral). Por dedução conclui que o mesmo se passaria com coleções de líquido na cavidade toráxica de seus pacientes (do geral para o particular). Transpôs assim para o exame do doente o método usado por seu pai com as barricas. J.N. Corvisart (1755-1821) teve conhecimento desta ainda obscura obra e divulgou-a em Paris e o método de percussão se mostrou espetacularmente fecundo em mãos dos clínicos franceses.
Graças a capacidade de pensar com lógico que adquirimos juízo. Juízo consiste na capacidade de comparar os fatos, as idéias, comprender suas conseqüências, tirar conclusões. É um trabalho de síntese, de compreensão e de julgamento do que considera certo ou não. Juízo da realidade: o processo mental mediante ao qual somos capazes de distinguir o que pertence a nossa realidade interna o que pertence a realidade externa. Na psicose, o paciente perde esta capacidade e considera seus pensamentos, fantasias, imaginações e sonhos como sendo reais. Juízo subjetivo: quando dirigido ao próprio indivíduo, é a autocrítica. Juízo objetivo: quando dirigido ao mundo externo.
Portanto ao observarmos a forma ou produção do pensamento de nosso paciente, estaremos sempre atentos a questão: lógico x mágico. Qual deles predonima? Quando predomina o mágico, estamos diante de um sintoma. Por exemplo, em psiquiatria se chama de autista aquele que apresenta autismo: está tão voltado para seus pensamentos fantasiosos que anda sem juízo da realidade. Por exemplo, entra cantando na sala e, indiferente se ali se processa uma reunião ou uma palestra, continua cantando.
B – CURSO DO PENSAMENTO
Quando o pensamento se expressa por meio da linguagem obsevamos um constante encadeamento de uma idéia com a que a precede. Normalmente há uma coordenação coerente e lógica das idéias afins e passa-se inintirruptamente e sem desvios da idéia inicial à final. Quando isto não ocorre, significa a existência de algum distúrbio.
· Fuga de Idéias: Há um aumento da atividade associativa e um desvio rápido de uma idéia à outra a ponto de não se chegar a concluir nenhuma. Encontra-se associada a alteração da atenção: hipervigilância, hipotenacidade. Por exemplo, o indivíduo começa a nos contar o enredo de um filme que acabara de ver que envolvia uma fuga em alta velocidade. A partir daí ele passa a falar da velocidade na fórmula 1, depois no trânsito de São Paulo. Parte para os problemas de violência em São Paulo. Segue com a violência humana, a bomba atômica, os átomos, a inércia, o bom descanço numa praia deserta, o peixe assado, o vinho, a produção de uva em Bento Gonçalves... Nunca chega ao final do filme.
· Desagregação: Diferente da fuga de idéias, na qual ainda se conservam as conexões normais, apesar da mudança constante antes da conclusão, na desagregação parece não haver nenhum fio de ligação. Ocorre uma salada de palavras. Exemplo: "jantei hoje, o carro desceu o edifício, o Paraguai é guai, nadam as pedras, foto vai, foto vem, veneno com jabutica, deus é grande".
· Bloqueio do pensamento: O curso do pensamento cessa bruscamente. Algumas vezes a interpretação é só momentânea, noutras é definitiva e começa outro pensamento completamente diferente.
· Inibição do pensamento: Tanto o início como o curso do pensamento são muito lentos. O paciente fala muito devagar, baixo, parece-nos que é muito difícil para ele pensar.
C – CONTEÚDO DO PENSAMENTO
· Idéias supervalorizadas: Idéias que tem carga afetiva mais forte tendem a dominar. A importância de uma idéia está diretamente relacionada com a importância interna de tal crença. O indivíduo torna-se cego para todo o resto.
· Idéia delirante (delírio): Uma idéia ou conjunto de idéias erradas, não aceitas pelo juízo normal da realidade. Características: 1. Falta de consciência do transtorno; 2. Irredutibilidade; 3. Tendência a difusão. Delírio sistematizado: interpretação total, há um discurso global delirante. Delírio não sistematizado: pequenos fragmentos delirantes, não engloba o todo. Uma idéia delirante pode ser de: grandeza, persecutória, auto-acusação, influência, referência, mística, ciúme, invenção e outras. Veja o filme K-Pax: idéia delirante de grandeza.
· Idéias obsessivas: São idéias não desejadas, não compreendidas e que se rechaçadas voltam a mente contra a vontade do indivíduo.
· Idéias fóbicas: coisas, objetos e situações que normamelmente não são perigosoas passam a ser coloridas com idéias de que são perigosas.
· Idéias auto ou heteroagressivas: O médico sempre estará atento a existência de tais conteúdos no pensamento de seu paciente pelo risco de suicídio ou de homicídio.
LINGUAGEM
É o modo de expressar-se. É o conjunto de sinais convencionais que utiliza o homem para expressar seus pensamentos e sentimentos. Tomando a linguagem como meio de expressão, ela pode ser: oral, escrita, mímica.
Na psicopatologia da linguagem oral, encontramos as seguintes alterações principais:
· Taquilalia ou verborréia: Aceleração da velocidade de expressão ou aceleração associativa. Característica dos estados de excitação.
· Bradilalia: Diminuição da velocidade de expressão por lentidão associativa. Por exemplo, na depressão.
· Mutismo: inibição voluntária ou semi-voluntária da palavra falada. Em certos casos, por exemplo, de depressão grave: não fala porque está certo da inutilidade de tentar qualquer tipo de comunicação, sua vida já acabou. No mutismo do esquizofrênico, o não falar se deve ao total desinteresse pelo mundo exterior totalmente mergulhado que está em suas fantasias.
· Ecololalia: Repetição como um eco das últimas palavras do interlocutor.
· Estereotipia verbal: Repetição automática de uma frase, palavra, sílaba ou som.
· Dislalia: defeito orgânico ou funcional da fala devido a mal formações ou inervação imperfeita da boca e dos órgãos de fonação; observa-se mais comumente na infância. Rotacismo: dificuldade em pronunciar o r. Landacismo: dificuldade de pronunciar o l. Sigmatismo: dificuldade em pronunciar o s.
· Disfemias: Desordens de emissão da palavra de causa não orgânica. Inclui-se aqui a tartamudez.
Na patologia da linguagem mímica, observamos:
· Hipermímica: Aumento dos movimentos da expressão facial.
· Hipomímica: Diminuição da expressão facial.
· Amímica: Imobilidade facial absoluta.
· Paramímica: Há uma impropriedade mímica; a mímica não traduz o estado afetivo do indivíduo.
A patologia da linguagem escrita, não apresenta maior importância na prática médica habitual.
INTELIGÊNCIA
É a capacidade de aproveitar a sua própria experiência prévia para superar obstáculos (resolver problemas) e alcançar seus objetivos. Na maioria dos casos, na própria forma do paciente nos comunicar como lida com sua vida, nos percebemos se sua inteligência é mediana ou se é gravemente disturbada. Entretanto, há casos em que necessitamos encaminhá-lo a realização de um teste de inteligência, que vai nos revelar seu QI (quociente de inteligência).
Estes testes não são totalmente precisos, muitos fatores podem limitar o desempenho do paciente no teste: bagagem socio-cultural, idioma, dificuldades motoras, sensorias e de comunicação que possa apresentar. Numa fórmula simplificada, poderiamos dizer que o resultado final é medido pela equação: I = idade mental/idade cronológica x 100.
O estudo da inteligência pode ser dividido em áreas, as chamadas sete (7) inteligências: I. Corporal/esportiva; II. Visual/espacial; III. Lógico/matemática; IV. Lingüística; V. Musical; VI – Interpessoal; VII – Intrapessoal ou intrapsíquica.
Para a relação médico paciente é de grande interesse a observação das duas últimas. A inteligência interpessoal consiste na capacidade de lidar com as pessoas:
1. Colocar-se no lugar delas;
2. Imaginar o que elas sentem;
3. Antever suas reações;
4. Observar sua inteligência;
5. Observar sua afetividade e sua agressividade(destrutividade);
6. Seu nível de maturidade;
7. Seus sentimentos e suas intenções em relação a ela mesma e aos outros.
A inteligência intrapsíquica consiste na capacidade de observar/lidar consigo mesmo:
1. Perceber os próprios sentimentos;
2. Avaliar seu próprio nível de inteligência;
3. Avaliar seu próprio nível de maturidade;
4. Perceber seus pontos fracos;
5. Sua afetividade, sua agressividade (destrutividade);
6. Seus projetos/sonhos.
AFETO
Afeto, sentimento, emoção, humor, são termos utilizados para a descrição desta função mental que participa e influi em toda a vida mental. Como vamos optar entre duas ou mais boas opções? Qual restaurante vamos? Qual cor vamos escolher se ambas são bonitas? O afeto é que decide. Se tivermos nosso afeto bloqueado, ficamos paralisados. Doença neurológica... Portanto, é uma importante função que influi em nossa atitude geral de aceitação ou rejeição de vínculos pessoais, de envolvimento ou não em determinada atividade, assim por diante.
Na psicopatologia da afetividade, encontramos:
· Afetos prazeirosos: Quando excessivos, como é o caso da euforia, pode ter origens em certas patologias; quadros maníacos, uso de drogas estimulantes.
· Afetos depressivos: Pode variar em grau, desde uma pequena tristeza até uma melancolia profunda.
· Afetos inadequados: A manifestação afetiva do paciente não combina com o que é esperado naquela situação. Por exemplo, no velório de alguém que lhe é significativamente importante, o indivíduo se mostra afetivamente indiferente ou até mesmo, alegre.
· Afetos ambivalentes: Sentimentos contraditórios, simultâneos em relação a uma mesma pessoa ou área de interesse.
· Medo, ansiedade, pânico: Nós precisamos do sentimento do medo, um alerta frente aos perigos desta vida. Porém, às vezes, este medo é desnecessário. Convivemos com uma permanente ansiedade. Ou temos crises de grande ansiedade sem motivo aparente, chamada de pânico.
CONDUTA
Sob este sub-título, estudamos as seguintes alterações:
· Hiperatividade: O paciente apresenta uma atividade exagerada. Na infância, encontramos crianças que são hipervigilantes, hipotenazes e hiperativas em quadros chamados de hipercinéticos.
· Hipoatividade: A atividade diminuida é comum em quadros depressivos.
· Conduta heteroagressiva: Quando a agressão se volta para outras pessoas, podendo chegar ao homicídio.
· Conduta autoagressiva: A agressão volta-se para si, podendo chegar ao suicídio.
· Compulsão: impulso irrestível de executar certo ato. É a conseqüência na conduta da alteração do pensamento chamada de obsessão. Apresenta, portanto, as mesmas característica desta.
· Estereotipias: Constante repetição de certas atividades. Os movimentos estereotipados são também chamados de maneirismos.
· Negativismo: Resistência do paciente em fazer o que se pede a ele, ou até mesmo, fazer o contrário do que se pede a ele.
· Catalepsia: Constante imobilidade numa posição qualquer. Um tipo de catalepsia é a flexibilidade cérea na qual as articulações do paciente podem ser estendidas sofrendo a resistência semelhante a da cera e permanecem na posição que a deixarmos mesmo que muito incômoda.
(Jorge Alberto Salton)