Álcool
Os problemas provocados pela ingestão exagerada de bebidas alcoólicas representam uma das principais preocupações da saúde pública da maioria dos países. É na adolescência que se entra em contato com as bebidas alcoólicas. Aquele que está ansioso, insatisfeito tende a “precisar” mais do efeito do álcool. Também aquele que já traz uma tendência genética para desenvolver o alcoolismo.
Alguns adotam o aperitivo diário. Outros bebem exageradamente no final de semana. Todos, um pouco mais adiante, desenvolvem um aumento de tolerância para o álcool, ou seja, para sentirem o mesmo efeito precisam ingerir maior quantidade.
Mais adiante, ocorre a primeira amnésia lacunar ou, em termos mais comuns, “apagamento”, “black-out”. Não lembra como é que fez para voltar para casa após uma festa em que bebeu bastante. Não lembra de ter dito certas coisas. Quebra objetos em casa e, quando lhe contam, acha que estão inventando.
De abusadores passam a dependentes. Alguns dos que se expõem ao uso de determinada droga logo se enquadram no abuso: passam a consumi-la de forma recorrente e não mudam seu comportamento mesmo sofrendo os efeitos prejudiciais. Por exemplo: menor rendimento nos estudos e/ou no trabalho; direção de um veículo com os sentidos prejudicados pela presença da substância no organismo; problemas com a lei; atrito com familiares que reclamam do abuso. Há bem pouco tempo, o sujeito pensava como seus familiares e agora entra em choque com eles. Diverge de valores que são os seus valores, fato que revela o poder que o álcool e as outras drogas tem sobre nosso cérebro.
A dependência é um passo à frente. Gradativamente os usuários passam a programar seu lazer em função da bebida. Vão jantar com a família pela oportunidade de beber. Tornam-se psicologicamente dependentes do álcool e bebem exageradamente. Dando-se conta do exagero, bebem escondido da família. Surge a dependência física e nela existem a tolerância e a abstinência. Constata-se o surgimento da tolerância pela necessidade de quantidades progressivamente maiores da substância para adquirir o efeito desejado. A abstinência consiste em sintomas que aparecem no indivíduo quando ele pára ou diminui o uso da substância. Outras características da dependência: o indivíduo consome a droga em maiores quantidades e/ou por um período de tempo maior do que deseja; podem ocorrer tentativas mal-sucedidas para controlar ou reduzir o uso da substância; muito tempo é gasto para conseguir a droga; atividades sociais, recreativas ou mesmo profissionais são abandonadas ou reduzidas em virtude do uso da substância; o uso da substância continua mesmo que o indivíduo saiba que certos problemas físicos ou psicológicos são agravados. Embora o sujeito saiba que sua úlcera piorou pelo uso de álcool, ele não consegue parar de beber. Outro não pára de usar cocaína mesmo sabendo que sua depressão é induzida por ela.
A dependência psíquica e física pelo álcool faz com que o indivíduo afunde. Aquele que se habituou a tomar um aperitivo diário não consegue mais parar de tomá-lo. Ao aperitivo de antes da janta acrescenta outro antes do almoço. Depois, antes de dormir. Depois, no meio da tarde. Acaba alcoolizado o dia inteiro. Aquele que bebia grandes quantidades no sábado, passa a beber também na sexta, depois na quarta e assim por diante até fechar toda a semana. Mediante muito esforço consegue ficar alguns dias sem beber, entretanto, se toma um gole não consegue mais parar.
Há uma perda de controle: depois de tomado o primeiro gole a necessidade física da substância é despertada e o indivíduo só para de beber quando totalmente intoxicado. Há uma alteração na bioquímica do cérebro que faz com que o indivíduo não consiga mais ter o poder de parar de beber.
A síndrome de abstinência pode ser grave, com sintomas que duram de três à sete dias após o indivíduo ter parado com a bebida: angústia, tremor, sudorese, náuseas, vômitos, diarréias e desidratação. Pode ocorrer até mesmo convulsão e delirem tremens.
Quando se instalam a perda de controle e a síndrome de abstinência, a pessoa está definitivamente com a doença alcoolismo. Sua vontade está dominada por esta substância. Antes se preocupava no quanto o alcoolismo atrapalhava seu trabalho, agora se preocupa no quanto seu trabalho atrapalha o alcoolismo.
Como ajudar esta pessoa?
A família e os amigos devem se conscientizar de que se trata de uma doença que atinge a vontade e o pensamento. O doente sempre nega que não tenha o controle sobre a bebida. Racionaliza: não é a bebida que lhe faz mal. Aquela história bem conhecida: o sujeito está vomitando não por ter ingerido um litro caipirinha, o que lhe fez mal foi o cachorro quente que comeu.
Se o doente se nega a buscar tratamento, a família deve ir primeiro. É necessário a orientação de um psiquiatra que trabalha com alcoolismo. Os grupos dos Alcoólatras Anônimos podem ser complemento importante no tratamento.
Em situações graves, o doente necessita ser hospitalizado mesmo contra sua vontade. Muitas vezes, somente no hospital consegue romper a negação e aceitar que enfrenta uma doença. Quando compreende e se conscientiza de que está doente pode assumir para si a responsabilidade de se tratar. Enquanto isto não acontece, a recuperação depende da atitude firme e decidida da família. (Dr. Jorge Alberto Salton)