Filme/ Diga três
Publicado em ZERO HORA
Jorge Alberto Salton
As consultas médicas estão cada vez mais curtas. O fenômeno ocorre em quase todos os países a ponto do cardiologista Bernard Low, professor em Harvard, sugerir em A arte perdida de curar que a população antes de consultar organize o que vai dizer, que tenha claro qual a queixa principal: “Se o médico achar que a sessão vai alongar-se, seu raciocínio se preocupará mais em abreviar a consulta do que em resolver o problema do paciente”.
Antigamente, apenas o chamado atendimento de massa patrocinado pelo Estado era assim. Depois, as consultas por convênio aceleraram e agora até mesmo as consultas particulares.
Nos pronto-socorros, há risco de morte, a equipe médica tem de ser rápida. Nos pronto-atendimentos, não há risco de vida, mas há um sofrimento que não pode esperar e o atendimento se atém à queixa principal. Em tais situações, o atendimento deve ser iniciado rapidamente, porém pode ocupar um tempo grande dos profissionais.
Com muita habilidade um médico pode conseguir estabelecer em curto espaço de tempo uma relação empática com o paciente. E assim “resolver” a relação médico-paciente. Mas para resolver o problema do paciente é necessário repassar a ele o que a ciência já descobriu a respeito e isso leva bem mais tempo. Uma consulta médica curta dificilmente será resolutiva.
Enid Balint, húngaro, que trabalhou como médico na Inglaterra, há mais de quarenta anos previu o fenômeno e tentou desenvolver maneiras de se obter resolutividade em consultas de poucos minutos. Ele conseguia, às vezes, “resolver” a relação médico-paciente com o que chamou de “flash”: uma imediata empatia mútua, uma sintonia plena entre quem atende e quem é atendido. Mas seu livro, que leva o estranho título de Seis minutos para o paciente, não responde o outro quesito: como em tempo curto resolver o problema do paciente.
O fato positivo é que, preocupados com a questão, os médicos começam a levá-la a seus encontros. Na IX Jornada Gaúcha de Psiquiatria promovida pela Associação de Psiquiatria do RS (APRS) o tema foi discutido a partir da exibição de um filme que leva ironicamente como título a expressão “Diga Três!” Pois, se ao exame do tórax o médico continuar a solicitar ao paciente o tradicional “Diga trinta e três!” perderá preciosos segundos que, somados, no final do dia...