O mal é falar muito no mal
Jorge Alberto Salton
PUBLICADO NO JORNAL ZERO HORA EM 18/06/09
Procuro contar aos meus alunos os bons modelos e os melhores momentos revelados por médicos atuais e passados sou professor de relação médico-paciente há 28 anos. Não é assim que se faz com o futebol? Se priorizássemos a divulgação não dos melhores momentos, e sim dos piores, continuaria ele sendo o esporte que mais admiramos?
Pesquisadores já fizeram levantamentos – Martin Seligman, Katherine Dahlsgaard, entre outros – sobre quais atributos pessoais consideramos dignos, éticos, formadores de um bom caráter: 1) capacidade de estabelecer relacionamentos honestos, leais e tolerantes; 2) ter boa empatia; 3) gostar, amar as pessoas e a vida; 4) agir de forma construtiva e querer sempre fazer o que é certo; 5) ser inteligente e capaz sem deixar de ser humilde; 6) revelar senso de dever e senso de justiça; 7) ser um otimista e não um crítico.
Admiramos quem possui algumas das qualidades referidas e também aqueles que, não as possuindo, revelam vontade de tê-las e se esforçam para tanto.
Melhoramos com os bons exemplos é lugar-comum, mas, para tanto, precisamos que eles cheguem até nós. Quando muito se fala no mal, sobra pouco espaço para o bem. O hábito de muito criticar, de muito apontar os aspectos negativos, gera desesperança e nada mais.
São os próprios políticos, citando-os como exemplo, que contribuem para a imagem exageradamente negativa que possuem: só falam mal uns dos outros. Criam CPIs a torto e a direito, em que ora estão do lado dos acusados, ora dos acusadores. Quando debatem na imprensa, não reconhecem boas qualidades no oponente.
Pergunto: por que os escritores das nossas novelas enchem-nas com personagens de mau caráter? Não se trata de propaganda às avessas do ser humano? E a propaganda não é a “alma” do negócio?
Se, ao passar para meus alunos a “novela da medicina”, eu priorizar os exemplos ruins, ao terminar a aula, eles e eu veremos reforçadas nossas próprias maldades. Pois o bem e o mal, outro lugar-comum, não convivem dentro de nós?
Ao contrário, como é aquietador escutar: “São muitos os homens bons”, “são inúmeras as boas mulheres”. E como faz bem ouvir, de vez em quando que seja, que nós também somos bons.