Tipos de criminosos

Tipos de criminosos

07/10/2019
Tipos de criminosos

CINCO TIPOS

Guido Palomba, conhecido psiquiatra forense de São Paulo e referência para os psiquiatras do país, nos oferece uma classificação ao mesmo tempo simples e completa que nos permite localizar todos os criminosos em apenas cinco tipos: impulsivos, ocasionais, habituais, fronteiriços e psicóticos. Recomendo a leitura de seu livro intitulado Loucura e Crime.

Impulsivos são os que cometem um crime num ato impulsivo. Por exemplo, se irritam no trânsito e agridem outro condutor.

Ocasionais são aqueles em que a “ocasião faz o ladrão”, como se costuma dizer. Na repartição em que trabalha alguém prepara um esquema de desvio de dinheiro e o convida a participar.

Habituais são os que vivem do crime. Por exemplo, sua profissão é assaltar bancos.

Fronteiriços são aqueles que estão na fronteira entre a sanidade e a psicose, que apresentam uma patologia escondida.  Por exemplo, pedófilos, estupradores, cleptomaníacos. Os psicopatas ou portadores de personalidade anti-social  também freqüentam este subtipo de criminosos.

Psicóticos são aqueles que confundem realizada com imaginação; não possuem noção do que estão fazendo.

CASOS

CRIME COMETIDO POR PSICOSE DEVIDO A ESQUIZOFRENIA

Durante um certo período, acompanhei alguns egressos do Instituto Psiquiatrico Forense de Porto Alegre que moravam em cidades próximas a minha. Minha função era manter os seus tratamentos  e , assim o fazendo, evitar que voltassem a se tornar periculosos.

O  Sr. Z, para citar um caso, ainda não tinha trinta anos, morava numa pequena propriedade agrícola com a esposa e dois filhos: seis e oito anos. Sempre fora um pouco desconfiado, porém essa sensação começou a aumentar muito a ponto dele não mais conseguir pregar o olho.  À noite, rondava a propriedade com uma arma em punho: bandidos iriam atacá-lo. A esposa insistia para ele dormir, dizia que ele estava exagerando os perigos. Mais adiante, começou a enxergar vultos que nem a esposa nem as criança viam.

Em determinada noite a tragédia aconteceu. A esposa acordou assustada: não viu o marido na cama a seu lado e teve um mau pressentimento. Levantou as pressas e quando encontrou o marido ele estava no corredor com uma faca ensangüentada saindo do quarto do filho menor e dirigindo-se para o quarto do filho maior. A esposa consegue alcançá-lo quando a faca já cortara a pele do tórax do menino que restava vivo. Em desespero, luta com o marido, grita por ajuda dos vizinhos. Consegue bater a cabeça do marido na quina da porta fazendo ficar tonto. 

Preso, o Sr. Z foi considerado como psicótico, portador de esquizofrenia paranóide. E, portanto, irresponsável pelo seu ato: inimputável.  Para o Sr. Z o demônio havia incorporado nos seus filhos. Ele atacara o demônio.

O Sr. Z permaneceu muito tempo no Instituto Psiquiátrico Forense. Bem medicado, os sintomas paranóides desapareceram por completo. Cessou a sua periculosidade e assim ele pode retornar para casa desde que se mantivesse em tratamento e fosse periodicamente avaliado quanto a sua periculosidade por um psiquiatra.

A esposa e o filho que restara aceitaram-no de volta. Entenderam que ele cometera um ato por estar na ocasião muito doente. E também achavam que talvez fosse mesmo coisa do demônio, só que o demônio havia incorporado no corpo do Sr. Z e não no corpo dos filhos. Fora o demônio o responsável pela tragédia. Então, além do tratamento psiquiátrico, mantinham-no em “tratamento” religioso.

De nada adiantaria o Sr. Z ficar na cadeia. E, desde que sem sintomas devido ao uso continuo de medicamentos, de nada acrescentaria ele permanecer no Instituto Psiquiátrico Forense.

CRIME COMETIDO POR PSICOSE DEVIDO AO USO DE DROGAS

Guido Palomba relata o caso do Sr. P, um homem de trinta e três anos que matou o padrasto e a mãe. P começou a usar drogas aos treze anos. Foi internado algumas vezes. Porém, quando tinha alta recaia em seguida no uso de álcool e de drogas. Certa vez, comprou álcool de farmácia e injetou em suas veias. Noutra vez, aplicou em si três doses de LSD do tipo “black power”. Tentou o suicídio duas vezes: jogou-se do terceiro piso de um hospital e cortou com um pedaço de vidro o pescoço.

Nunca trabalhou, a mãe o sustentava.

Um dia, sem motivo aparente, chegou em casa drogado e matou com vários tiros o seu padrasto.  A avaliação psiquiátrica constatou tratar-se de alguém com transtorno de personalidade anti-social (psicopata) e dependente de drogas. Preso, foi considera inimputável e foi lhe aplicada medida de segurança consistente em internação em Instituto Psiquiátrico Forense.

Num grave erro, após determinado tempo de internação – ele sem usar drogas conseguia aparentar bom comportamento - , foi solto e voltou a viver com a mãe.

Quando a mãe lhe negou dinheiro para comprar mais droga, P a matou a facadas. Disse: “Minha mãe era uma vagabunda, tinha um monte de homens. Ela me tratou mal frente a algumas visitas. Então, eu tomei uma injeção de éter e cheirei mais um pouco. Estava com muita raiva dela.  Em duas ou três horas foi que eu planejei matá-la. Quando eu a encontrei dei-lhe um beijo de despedida na testa, e ela me deu um beijo no lábio. Aí eu falei para ela – ‘Que é isso?” – e ela falou – ‘Você não é homem?’-, e eu me enfureci  e dei várias facadas. Eu queria acertar o coração mas eu estava de frente e em vez de acertar o lado esquerdo eu estava acertando o lado direito. Depois que percebi, passei  a golpear direito”.

O uso de drogas afetou a bioquímica de seu cérebro, ele passou a apresentar momentos psicóticos. Pode ser enquadrado como semi-imputável e o juiz poderá optar ou pela prisão ou pelo Instituto Psiquiatrico Forense. Porém, a periculosidade de P jamais vai cessar. Não há nada que garanta que ele de volta as ruas não vá usar drogas e, como conseqüência, voltar a cometer assassinatos.

CRIME COMETIDO POR FRONTEIRIÇO PEDÓFILO

Guido Palomba relata o caso de um homem - que vou denominá-lo de Sr. C - de vinte e dois anos de idade que, após beber cachaça raptou uma menina de quatro anos, praticou estupro vaginal e anal e, estando ela desmaiada, cobriu-a com capim e pos fogo matando-a queimada.  E, ato continuo, fugiu para outra cidade pelo temor de ser preso.

O exame psiquiátrico constatou que esse homem tinha desejos sexuais intensos por crianças pequenas e que quando bebia se tornava agressivo. Ele tinha noção do que havia feito, entendia o caráter criminoso do seu ato, diferente do psicótico, tanto é que tentou dar fim ao corpo da vítima e fugiu.

Por outro lado, é movido por um desejo doentio de tipo perverso que, quando bebe, não consegue conter.

O crime, portanto, tem base numa patologia, mas ele sabe discernir o que é crime e o que não é. Portanto, é semi-imputável. No caso em questão, o juiz vai determinar se ele deve ir para um Instituto Psiquiátrico Forense ou se deve ir para a cadeia.

Diferente do Sr. Z -  psicose devido a esquizofrenia -, o Sr. P e o Sr. C, nunca terão cessadas neles a periculosidade. Sempre que nas ruas, serão perigosos.

MATADORES EM SÉRIE

Há três tipos de indivíduos que assassinam em série: (a) mentalmente normais; (b) psicótico; (c) fronteiriço.

São poucos os matadores em série que não apresentam doença mental. Aqui se encontrariam os assassinos de aluguel. Questiona-se hoje se todos eles não apresentariam psicopatia em grau variado. Ou seja, estariam enquadrados no tipo fronteiriço e não nos mentalmente normais. Pois, um matador profissional não psicopata, após dois ou três assassinatos abandonará a profissão consumido pelo remorso.

matador em série psicótico não esconde os crimes. Em geral mata as pessoas em sequência e é preso. Não tendo noção do que está fazendo, não cria rota de fuga.

Os fronteiriços apresentam personalidade antisocial ou psicopatia. E podem também ter cormobidade com outra patologia como pedofilia ou estupro, por exemplo.

CASOS

MATADORES EM SÉRIE FRONTEIRIÇOS: PSICOPATAS, ESTUPRADORES E PEDÓFILOS.

Em Passo Fundo, tivemos, entre outros, dois casos gravíssimos.

1

Um ex-garçom construiu uma sequência de crimes de estupro, com morte inclusive. Em 1991 foi preso por crime de estupro. Em 1996 obteve a liberdade condicional. Em seguida a sua libertação, uma menina de cinco anos foi violentada e morta num terreno baldio no centro de Passo Fundo. O ex-garçom foi preso, confessou o crime e foi condenado a quarenta anos de prisão. Recorreu da sentença e em 1999, foi absolvido pelo Tribunal de Justiça do Estado por ter alegado em sua defesa que confessara o crime sob tortura.

Mudou-se para Santa Catarina e acabou novamente preso por ter cometido uma série de estupros na cidade. Indivíduos assim, com facilidade matam a vítima se as circunstancias levarem a isso tornando-se matadores em série.

2

Outro caso gravíssimo, é o de Adriano, conhecido como o serial killer de Passo Fundo. Preso em janeiro de 2004 confessou ter assassinado doze meninos com idades entre oito e treze anos.

Pessoas assim, sempre que estiverem nas ruas poderão matar. Sua periculosidade nunca vai cessar. Para se evitar mais vítimas, a única maneira é a prisão perpétua ou a pena de morte.

(Jorge Alberto Salton)

 

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