1934: MINOT, WHIPPLE e MURPHY
Artigo científico escrito por:
CASALI, Hellen M.
NOSCHANG, Hanna
REINEHR, Gustav
Faculdade de Medicina da UPF
RESUMO
O presente artigo faz parte de uma série de revisões bibliográficas sobre os laureados com o Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia, realizadas por acadêmicos da Faculdade de Medicina da Universidade de Passo Fundo, Rio Grande do Sul, Brasil. Este trabalho consiste em um estudo bibliográfico sobre George Richard Minot, George Hoyt Whipple e William Parry Murphy, médicos que se uniram em prol da descoberta de tratamento para anemia perniciosa. Estes estudiosos fizeram experimentos e constataram que esta doença consistia em alterações na composição sangüínea e que a mesma podia ser tratada com uma dieta a base de fígado cru. Por esta descoberta, importante na cura desta patologia, ganharam o Prêmio de 1934. Hoje se sabe que a anemia perniciosa é devido à deficiência de vitamina B12 em conseqüência de uma doença auto-imune na mucosa do estômago: a gastrite atrófica. Esta doença leva a sintomas graves que justificam a pesquisa e a conseqüente premiação.
PALAVRAS-CHAVE: Prêmio Nobel; anemia perniciosa; vitamina B12
ABSTRACT
The current article is part of a serie of bibliographics reviews about the Nobel Prize in Phisiology and Medicine Laureates’, made by academics of the Faculdade de Medicina of the Universidade de Passo Fundo, Rio Grande do Sul, Brazil. This work consists in a bibliographic study about George Richard Minot, George Hoyt Whipple and William Parry Murphy, physicians that joined each other on behalf of the discovery of the treatment of the pernicious anemia. This studious made experiments and found out this disease consists of alterations of the blood composition and it can be treated with a raw liver based diet. Because this discovery, important in the cure of this pathology, they won the Prize of 1934. Today is known that the pernicious anemia due to and B12 vitamin lack in consequence of and self immune disease at the gastric mucosa: the atrophic gastritis. This disease takes to serious symptoms that justify the research and the consequent awarding.
KEY WORDS: Nobel Prize; pernicious anemia; B12 vitamin
INTRODUÇÃO
O Prêmio Nobel é hoje o maior símbolo de reconhecimento dos meios acadêmicos e científicos. Foi idealizado por Alfred Nobel e criado depois de sua morte em 1896. Foi entregue pela primeira vez em 1901, e a partir de então vem homenageando e entregando quantias notórias de dinheiro, como incentivo à novas pesquisas, à cientistas que realizaram trabalhos importantes para a humanidade. São premiados pesquisadores que se destacam nos campos de Medicina e Fisiologia, Química, Física, Literatura e Promoção da Paz. Apesar de merecedores de reconhecimento, há pouca informação disponível acerca dos feitos e biografias dos ganhadores deste prêmio.
Os ganhadores do Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia do ano de 1934 foram George Hoyt Whipple, George Richard Minot e William Parry Murphy, que sempre ocuparam cargos de destaque, e que desenvolveram pesquisas importantes, as quais contribuíram muito para o tratamento da anemia perniciosa através da descoberta dos benefícios da ingesta de fígado cru. Esta doença deve-se à deficiência de vitamina B12, que é decorrente de uma doença auto-imune da mucosa gástrica, denominada gastrite atrófica. Hoje, a dieta à base de fígado cru foi substituída por novas alternativas terapêuticas, principalmente a reposição da vitamina B12 por injeções intramusculares, que apresentam um resultado muito mais eficiente e praticamente imediato.
Esta pesquisa tem como objetivo reunir informações sobre a vida e obra destes três médicos, além de conhecer e justificar a importância dada às suas descobertas; uma vez que, em sua época, representaram um avanço no tratamento de uma doença prevalente na população adulta. O estudo contém um breve histórico do Prêmio Nobel, seguindo-se da biografia dos laureados de 1934 bem como suas descobertas e as conclusões dos autores.
DESENVOLVIMENTO
Alfred Nobel, nascido em 1833 na cidade de Estocolmo na Suécia, descobriu a dinamite em 1866 e então montou indústrias e laboratórios em mais de 20 países, se tornando um milionário dono de um verdadeiro império. No dia 27 de Novembro de 1895 realizou seu último desejo, criando o Prêmio Nobel. Em 1896, no dia 10 de dezembro, mesmo dia em que ocorrem as cerimônias de premiação, Nobel morreu de hemorragia cerebral. O prêmio deveria condecorar homens de destaque e suas descobertas nos campos de Física, Química, Medicina e Fisiologia e Literatura; e ainda, um prêmio àquele que mais se empenhasse em prol da paz. Em 1969 foi acrescentada uma nova categoria de premiação, a de Ciências Econômicas.
No dia 29 de Junho de 1900 foi criada a Fundação Nobel, uma instituição privada, designada a realizar o sonho de Nobel. Assim, no dia 10 de Dezembro de 1901, ocorreu a primeira cerimônia de premiação, que desde então são realizadas anualmente nas cidades de Estocolmo na Suécia e Oslo na Noruega. O processo de escolha dos premiados começa com a formação de um comitê que envia convites às autoridades científicas de vários países, que nomeiam possíveis candidatos. Estes passam por uma análise criteriosa e depois são votados por instituições como a Academia Real de Ciências da Suécia para Física, Química e Economia; a Academia de Literatura da Suécia e o Comitê Nobel da Noruega. Aquele que for escolhido é condecorado com uma medalha de ouro com a efígie de Alfred Nobel, um diploma e um prêmio em dinheiro. Os laureados têm, ainda, o direito de recusar o recebimento do Prêmio.
George Richard Minot, um dos laureados no ano de 1934 pelos empenhos na descoberta de um tratamento para a anemia perniciosa, nasceu no dia 2 de Dezembro de 1885 na cidade de Boston, Massachussets, EUA. Ingressou na Universidade de Harvard, onde obteve seu Artium Baccarlaureatus (domínio de grego, latim, artes e ciências) no ano de 1908. Na mesma instituição, recebeu seu diploma de Médico, em 1912. Realizou seu treinamento hospitalar no Hospital Geral de Massachussets e trabalhou no Hospital e Escola de Medicina Johns Hopkins. Em 1915 se tornou assistente de medicina da Escola de Medicina de Harvard e no Hospital Geral de Massachussets. No ano de 1922 assumiu o cargo de Médico Chefe do Hospital Memorial Collis P. Huntington da Universidade de Harvard. Depois disso, Minot foi indicado para a diretoria do Hospital Peter Bent Brigham. Em 1928 assumiu o cargo de professor de Medicina da Universidade de Harvard e de Diretor do Laboratório Memorial de Thorndike.
Ainda estudante de medicina, Minot demonstrava grande interesse pelas patologias do sangue - estudou a coagulação sangüínea, as transfusões, as plaquetas e os reticulócitos - tendo publicado diversos materiais sobre este assunto. Ele também descreveu uma hemorragia atípica que está associada à anemia prolongada, além de ter analisado as condições do sangue em certos casos de intoxicação industrial. Entre os seus outros interesses estavam as patologias do tecido linfático - a policitemia, a artrite, o câncer, as deficiências nutricionais, bem como os aspectos sociais das doenças. Entretanto, sua maior contribuição para a ciência foi o estudo sobre a anemia. George Minot iniciou seus estudos desta patologia em 1914. Nesse período, ele e o estudioso William P. Murphy passaram a contribuir com as pesquisas de George Hoyt Whipple no tratamento experimental da anemia em cães. A partir deste trabalho, eles descreveram, em 1926, o tratamento da anemia perniciosa através da ingesta de fígado cru e dessa forma, no ano de 1934, receberam o Prêmio Nobel.
Minot ainda realizou pesquisas sobre o funcionamento gastrintestinal e sobre o tratamento da anemia a base de aço. No exercício de sua profissão participou de organizações e publicações médicas e foi condecorado com prêmios dentre os quais destacamos o Prêmio Cameron em Práticas Terapêuticas da Universidade de Edinburgh (1930), Medalha de Ouro Mensal e Anual de Ciência Popular (1930) e Medalha John Scott Medal da cidade da Philadelphia. Depois de muitas realizações George Richards Minot faleceu no dia 25 de fevereiro de 1950.
George Hoyt Whipple, também premiado em 1934, nasceu no dia 28 de agosto de 1878, em Ashland, New Hampshire, EUA. Concluiu sua graduação no ano de 1900 na faculdade de Medicina da Universidade de Yale. Nesse mesmo ano, ingresso na Universidade de Johns Hopkins onde, no ano de 1905, concluiu sua especialização e foi escolhido Assistente de Patologia. Nessa instituição, Whipple pesquisou os pigmentos relacionados a necrose do fígado, quando em contato com anestesia de clorofórmio, e constatou que a regeneração das células desse órgão tem um limite.
Em 1914, Whipple tornou-se Professor de Pesquisa Médica da Escola Médica da Califórnia e Diretor da Fundação para Pesquisa Médica Hooper. Onde estudou a rota da bile, a produção da hemoglobina e fez experimentos, juntamente com C.W. Hooper e com Mestre Robscheit- Robbins, sobre a anemia em cães. O tratamento descoberto com essas experiências proporcionou a George Hoyt Whipple o Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia junto com George R. Minot e William P. Murphy. Mais tarde, em 1921, o estudioso foi escolhido como Professor de Patologia e Reitor da Faculdade de Medicina e Odontologia da Universidade de Rochester. De1936 até 1953 Whipple participou do Conselho Diretor e Científico do Instituto Rockefeller.
George Hoyt Whipple também pesquisou vários outros assuntos, entre os quais podemos destacar a tuberculose, pancreatite, metabolismo do ferro e de proteínas, vitamina B12 e suas funções. Durante sua trajetória foi condecorado com muitos prêmios e títulos, entre eles: Medalha de Ouro da Ciência Popular (1930) e Medalha de Ouro William Wood Gerhard da Sociedade de Patologia da Filadélfia (1934). Faleceu no ano de 1976 com 97 anos.
William Parry Murphy, outro premiado em 1934, nasceu no dia 6 de Fevereiro de 1892, em Stoughton Wisconsin, EUA. Estudou na Escola Pública de Wisconsin, de Oregon e na Universidade de Oregon, onde se formou em 1914 em Artium Baccarlaureatus (domínio de grego, latim, artes e ciências). Nos dois anos seguintes lecionou física e matemática em escolas de ensino médio de Oregon. Depois, freqüentou por um ano a Escola Médica da Universidade de Oregon em Portland, onde atuou como assistente de laboratório do Departamento de Anatomia. Em seguida, ele participou de um curso de verão na Escola Médica Rush em Chicago, e mais tarde ganhou uma bolsa de estudos na Escola Médica de Harvard, com duração de três anos.
Murphy se formou em medicina em 1922, por dois anos fez residência no Hospital Rhode Island e tornou-se assistente da residência médica no Hospital Peter Bent Brigham por um ano e seis meses. Em 1924 William tornou-se assistente de Medicina em Harvard. Depois de formado, Murphy participou de pesquisas sobre Diabetes Mellitus e sobre doenças do sangue, porém obteve maior destaque no meio científico devido ao seu trabalho sobre a anemia perniciosa, juntamente com Minot e Whipple, que lhes rendeu o Prêmio Nobel em 1934. De 1935 até 1938 ele participou da Associação de Medicina de Harvard e de 1948 até 1958 foi professor de Medicina.
Em 1939 ele escreveu e lançou o livro “Anemia em Consultório: Anemia Perniciosa”. Durante sua vida, também atuou como hematologista em vários hospitais. Entre suas conquistas e honras estão o Prêmio Cameron da Universidade de Edinburgh, junto com Richards Minot por seu trabalho com anemia perniciosa; a Medalha de Bronze da Associação Médica Americana por uma exibição demonstrando seu método de tratamento da anemia com a ingesta de fígado; e o Mérito Nacional da Ordem Carlos J. Finlay Cuba. Faleceu em 1987.
A anemia perniciosa é caracterizada pela falta de vitamina B12, cuja absorção é diminuída em decorrência da gastrite auto-imune, a gastrite atrófica. Também está associada a outros distúrbios imunológicos, como a tireoidite Hashimoto, hipertireoidismo, Diabetes Mellitus insulino-dependente e vitiligo. As manifestações clínicas típicas são a glossite, dormência e falta de sensibilidade das extremidades e deterioração neurológica irreversível.
O tratamento atual para esta patologia consiste em injeções intramusculares de vitamina B12. De dois a três dias após a primeira injeção, o paciente já percebe os primeiros sinais de melhora: sente-se eufórico, bem disposto e com apetite. A anemia cura-se dentro de poucas semanas, porém os sintomas neurológicos são mais lentos ou até irreversíveis.
CONCLUSÃO
A pesquisa sobre o Prêmio Nobel de 1934, no qual George R. Minot, George H. Whipple e William P. Murphy foram laureados, demonstrou a grande importância e a necessidade de um método terapêutico efetivo no combate a anemia perniciosa. A descoberta realizada por esses três cientistas não repercutiu apenas na época da pesquisa, mas também se refletiu anos mais tarde, pois a mesma abriu caminhos para o descobrimento da vitamina B12 e suas funções no organismo. Conhecer a história de grandes cientistas foi o meio pelo qual fomos introduzidos à pesquisa científica, estimulando assim a produção de novos trabalhos. Na elaboração desse artigo também entramos em contato com normas de trabalhos científicos, o que foi um aprendizado útil para a nossa formação acadêmica, pois tais normas farão parte de toda nossa graduação e vida profissional, e o seu conhecimento é indispensável. Ao refletirmos sobre os ganhadores do Prêmio Nobel de 1934 e suas vidas repletas de conquistas, notamos a importância da pesquisa em medicina e do espírito crítico para a construção do saber médico e para a evolução dessa ciência no tempo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
NORO, João J. Nobel, O Prêmio e o Homem. 1a. ed. São Paulo: JSN Editora, 1999.
GOLDMAN, Lee; AUSIELLO, Dennis. Cecil: Tratado de Medicina Interna. 22a. ed. São Paulo: Elsevier, 2005
NOBEL PRIZE, Nobel Lectures. Disponível em: www.nobelprize.org Acesso em: 12 de abril de 2006.
SÓ BIOGRAFIAS, Biografias. Disponível em: www.sobiografias.hpg.ig.com.br Acesso em 17 de abril de 2006.
REVISTA Morashá, A História do Prêmio Nobel: Alfred Nobel. Ed. 32 – Abril de 2001.
Orientadores:
Evania Araújo
Jorge Salton