1990: MURRAY e THOMAS
Artigo escrito por:
BRANDT, Thissiane E.
STUMPF, Ticiana
VARALO, Vanessa S.
RESUMO
Joseph Murray e Donnall Thomas foram os ganhadores do Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia do ano de 1990 e através de suas pesquisas tanto a comunidade científica como a população em geral pôde testemunhar diversos avanços no ramo de transplantes de órgãos e células no tratamento de doenças humanas.
Este artigo visa contribuir para a compreensão de seus trabalhos e informar sobre a biografia desses médicos americanos.
Joseph Murray, um cirurgião nascido em Massachusetts, no ano de 1919, descobriu como a rejeição nos transplantes de órgãos poderia ser controlada e Donnall Thomas, um hematólogo nascido no Texas, no ano de 1920, mostrou que as células intravenosas introduzidas na medula óssea podem repopulá-la e produzirem novas células sangüíneas.
Palavras-chave: Nobel de 1990; transplantes de órgãos; biografia; Joseph Murray; Donnall Thomas.
ABSTRACT
Joseph Murray and Donnall Thomas were the winners of The 1990 Nobel Prize in Physiology or Medicine and through their discoveries both, the scientific comunity and the world population could testify a lot of advances at the field of organs and cells transplantation as a new way treating human diseases.
This article has the objective of increasing the comprehension at their works, besides informing about the biography of these american doctors.
Joseph Murray,a surgeon of Massachusetts, was born in 1919 and discovered how the rejection of the organ transplantated coud be maneged. Donnall Thomas, a hematologist from Texas, who was born in 1920 worked to demonstrate that bone marrow cells intraveneously infused could repopulate the marrow, besides producing new blood cells.
Key- words: Nobel Prize of 1990; organ transplantation; biografy; Joseph Murray; Donnall Thomas.
INTRODUÇÃO
O século XX foi uma época marcada por diversas transformações no que se refere aos avanços técnico-científicos e principalmente na área médica, particularmente com relação a novos métodos diagnósticos e novas modalidades terapêuticas. Dentre inúmeros avanços terapêuticos testemunhados, um dos mais notáveis foi o progresso na área de transplante de órgãos e, em particular, o emprego de células tronco para a regeneração do sistema hematopoiético. O reconhecimento do impacto desta nova modalidade terapêutica culminou com a concessão do Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia em 1990 a Joseph Murray e Donnall Thomas, pioneiros em transplante de órgãos e células.
O seguinte artigo tem por objetivo informar sobre os ganhadores e sobre o Prêmio Nobel de Medicina de 1990 Joseph Murray e Donnall Thomas.
DESENVOLVIMENTO
Conhecimentos sobre os transplantes de órgãos e células
A idéia de transplantar órgãos de um ser humano para outro já foi levantada em tempos remotos. Tentativas sem sucesso de transplantar órgãos foram feitas no início do século. O Prêmio Nobel de Medicina de 1912, Alexis Carrel, concluiu que havia uma “força biológica” que impedia os transplantes. O Prêmio Nobel de 1940, Sir Peter Medawar, afirmou que essa “força biológica” sempre impedirá o transplante de um indivíduo para outro.
Alguns pesquisadores não aceitaram esse ponto de vista. Em vez disso, tentaram entender e definir a teoria de Carrel (“força biológica”), e durante os anos de 1950 e 1960 os resultados foram descobertas sobre substâncias específicas na superfície das células, os chamados antígenos do transplante, o que no homem foi chamado antígeno de HLA (Human Leukocyte Antigens).
O antígeno de HLA na superfície das células do órgão transplantado é reconhecido pela defesa imunológica do receptor como um forasteiro e ativa imunologicamente células tentando rejeitar o enxerto. Seguindo o transplante de células imunologicamente ativas – como o da medula óssea – também as células do receptor são reconhecidas como forasteiras, e o enxerto reage contra as células do receptor causando morte. Essa reação é chamada de “graft versus host” – GVH. Com essas descobertas, tornou-se primordial encontrar um meio de controlar as rejeições aos transplantes de órgãos e células.
A descoberta de que irradiação ionizante e drogas citotóxicas impossibilitavam a proliferação celular possibilitou a supressão da atividade imunológica durante os transplantes.
BIOGRAFIAS
E. Donnall Thomas
E. Donnall Thomas nasceu em 1920 no Texas. Foi o único filho do segundo casamento do Dr. Edward Thomas, o qual se mudou para o Texas com apenas quatro anos, em 1874, ingressando na Universidade de Louisville, Kentucky, sem quase nenhuma formação escolar.
Thomas nunca foi um estudante extraordinário durante o período escolar. Ingressou na Universidade do Texas, em Austin, em 1937. Foi então que surgiu seu interesse pela química e, principalmente, pela engenharia química. Em 1941, tornou-se bacharel em artes e, em 1943, mestre em artes.
Durante seus anos de graduação, Thomas teve vários empregos e foi em um deles, num dormitório feminino, que conheceu Dorothy Martin, com quem se casou e teve três filhos e oito netos.
Entrou para a Escola de Medicina de Harvard em 1943. Durante o curso de Medicina Dorothy abandonou seu trabalho como jornalista para fazer um treinamento de técnica laboratorial o que, mais tarde, seria de grande valor para os trabalhos de Thomas. Em 1946, Thomas se torna Doutor em Medicina.
Os anos seguintes foram: um ano de treinamento hematológico com seu amigo, o Dr Clement Finch; dois anos no exército; um ano de pós-doutorado no Instituto de Tecnologia de Massachusetts e dois anos de residência no Peter Bent Brigham Hospital em Boston. Foi nesse período que Thomas conheceu o Dr. Joseph Murray, um residente de cirurgia, de quem se tornou amigo e colega devido ao interesse em comum em transplantes. Thomas ajudou Murray a cuidar de seu primeiro paciente com rim transplantado.
Durante o curso de Medicina surgiu o interesse em medula óssea e leucemia. Seu interesse foi intensificado com sua associação ao Dr. Sydney Farber, quem lhe deu seu primeiro laboratório. Teve a oportunidade de acompanhar a primeira criança acometida por leucemia linfoblástica. Surgiu seu interesse pelos fatores estimulantes da medula óssea em parte devido à tentativa de Allan Erslev’s de demonstrar a eritropoietina.
Thomas ficou intrigado pelos estudos com ratos do Dr. Leon Jacobsen et al., quem demonstrou que protegendo o baço protegeria os ratos contra uma outra irradiação letal, e, mais tarde, pela demonstração de Egon Lorenz et al. de que uma infusão de medula óssea também era protetora. Inicialmente, pensou-se que essa imunidade seria resultado dos fatores estimulantes. Em 1955, Main e Prehn publicaram seu artigo mostrando que um rato protegido contra irradiação letal pela infusão de medula óssea aceitaria um enxerto de pele do doador de medula. Esses estudos e a demonstração de Ford et al. usando tecnologia citogenética nos cromossomos do doador deixaram claro que o efeito de proteção contra irradiação era conseguido pela sobrevivência das células da medula óssea.
Em 1955, com o convite do Dr. Joseph Ferrebee, Thomas foi trabalhar no Mary Basset Hospital em Cooperstown, NY, uma afiliação da Universidade de Columbia onde imediatamente começou seus trabalhos com transplante de medula em pacientes humanos e em cães.
Em 1963, ele se mudou para Seattle a convite do Dr. Robert Willians, um famoso endocrinologista e presidente do Departamento de Medicina da Universidade de Washington. Thomas estabeleceu seu programa no Seattle Public Health Hospital tentando integrar as diversas instituições atuantes nessa área.
Foram anos de estudos com a formação de uma equipe diversificada de pesquisadores e enfermeiros, os quais, ao final, puderam demonstrar que muitos pacientes com leucemia avançada, anemia aplásica ou doenças genéticas poderiam ser curadas pelo transplante de medula.
Em 1975, a equipe de Thomas foi forçada a se mudar. Estabeleceu-se no Fred Hutchinson Cancer Research Center onde teve a oportunidade de expandir o programa com a cooperação do Swedish Hospital Medical Center. Conciliando pesquisa em laboratório e transplantes, a equipe já havia feito quatro transplantes de medula óssea em humanos.
Foi mais de 20 anos de dedicação e trabalho na área de transplantes de medula e na prevenção de sua rejeição, o que resultou no Prêmio Nobel de Medicina de 1990 ao Dr. E. Donnall Thomas, aos 70 anos de idade.
Os trabalhos do Dr. Thomas foram cruciais no desenvolvimento da importante prática dos transplantes de medula óssea. Suas pesquisas demonstraram que infusões intravenosas de células da medula podem repopular a mesma e produzir novas células sangüíneas obtendo-se, assim, a cura para severas doenças hereditárias como a talassemia e doenças do sistema imunológico como a leucemia e a anemia aplásica.
Thomas obteve sucesso transplantando células da medula óssea de um indivíduo para outro não geneticamente idêntico. Mas, para isso, teve que se dedicar às pesquisas com o intuito de descobrir como seria possível evitar as reações de rejeição, a chamada reação “enxerto x hospedeiro”. Nesse sentido, Thomas trabalhou no aprimoramento de uma droga citotóxica, Metotrexate, como imunossupressor.
Joseph E. Murray.
Joseph E. Murray nasceu em Milford, Massachusetts, em 01/04/1919, assim como seu pai, um advogado de origem irlandesa. Sua mãe nasceu em Providence, Rhode Island e era de origem italiana.
Murray ingressou em Harvard onde estudou Medicina por quatro anos. Nessa época conheceu Boddy Link, uma estudante de música, com quem casou em junho de 1945. Tiveram seis filhos, três meninos e três meninas.
Seu interesse em estudar transplantes de tecidos e órgãos surgiu de sua experiência militar no Vally Forg General Hospital, na Pensilvânia, durante a II Guerra Mundial. VFG era um dos maiores centros em cirurgia plástica e foi nesse centro que Murray iniciou seu trabalho em enxertos de pele em pacientes com queimaduras. Como nem sempre era possível realizar o auto-enxerto, Murray e sua equipe também faziam enxertos de uma pessoa para outra. Observou-se então que o receptor reagia, destrutivamente, contra a pele enxertada.
Essa rejeição fascinou Murray. O coronel James B. Brown, seu supervisor, apresentou-lhe sua experiência no assunto afirmando que quanto maior for a semelhança genética menor será o risco de rejeição baseando-se em um enxerto de pele feito por ele entre os gêmeos univitelinos em 1937. Foi isso que despertou em Murray o ímpeto de estudar transplantes de órgãos.
Seu laboratório de pesquisa recebeu o apoio de vários cientistas, entre eles o prêmio Nobel de 1960, Peter Madwar, e os prêmios Nobéis de 1988, George Hitchngs e Trudy Elion.
Em 1954, Murray, com sucesso, fez pela primeira vez o transplante de rins entre gêmeos homozigotos, em Boston. Passou a estudar os meios de se impedir a rejeição à órgãos transplantados tais como a irradiação ionizante e as drogas citotóxicas, em particular a Azitioprina. Murray estava empenhado em mostrar que a irradiação do corpo todo diminuía o risco de rejeição ao órgão transplantado e o uso de Azitioprina obtinha um melhor efeito.
A partir da descoberta dos imunossupressores ele pode fazer transplantes entre pessoas não geneticamente idênticas. Ele foi pioneiro no transplante de rins obtidos de pessoas já falecidas e mostrou que pacientes com insuficiência renal terminal poderiam ser curados. Assim, dezenas de milhares de transplantes de rins são feitos todos os anos, sendo que hoje, com o sucesso dos imunossupressores, os enxertos são feitos com sucesso com uma taxa de 80%.
CONCLUSÃO
Desta forma, o Prêmio Nobel de Medicina de 1990 concedido à Murray e Thomas foi uma forma de reconhecer a contribuição de suas pesquisas para o avanço da Medicina.
Assim como Murray que, com sucesso, realizou pela primeira vez um transplante de rim e abriu campo para o transplante de outros órgãos como fígado, pâncreas e coração, Thomas, dedicou-se e trabalhou na área de transplante de medula e na prevenção de sua rejeição. Todo esse trabalho foi de fundamental importância para aumentar a esperança de milhares de pacientes severamente doentes que podem ser curados ou terem uma vida decente, e que outrora não teriam sucesso com outros tratamentos.
Assim, acreditamos que, ao elaborar este artigo, além de aprofundar nossos conhecimentos sobre o assunto, estaremos contribuindo para novas fontes de pesquisa sobre a vida destes magníficos cientistas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
•http://nobelprize.org/nobel_prizes/medicine/laureates/1990
•http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias
Orientadores:
Jorge Alberto Salton
Evânia Araujo