1922: VIVIAN HILL e FRITZ MEYERHOF

09/10/2019
1922: VIVIAN HILL e FRITZ MEYERHOF

Artigo científico escrito por:
PEZZINI, Cristina E.  
VENDRAMIN, Consuelo
Faculdade de Medicina UPF

RESUMO


O presente artigo versa sobre a pesquisa científica e biografia de Archibald Vivian Hill e Otto Fritz Meyerhof (FOTO). Através de seus experimentos, eles conseguiram abrir caminhos para uma compreensão inicial do metabolismo no músculo, sendo agraciados com Prêmio Nobel em 1922. Nesse âmbito, Hill dedicou-se a produção de calor e seu aproveitamento enquanto Meyerhof, à relação fixa entre o consumo de oxigênio e o metabolismo do ácido lático. 
PALAVRAS-CHAVE: ácido lático, metabolismo muscular, prêmio nobel.

ABSTRACT

The present article turns on the scientific research and biography of Archibald Vivian Hill and Otto Fritz Meyerhof.  Through their experiments, they had openned ways for an initial understanding of the metabolism in the muscle, being awarded with The Nobel Prize in 1922. On this way, Hill dedicated to the production of heat and its exploitation while Meyerhof, to the fixed relation between the consumption of oxygen and the metabolism of the lactic acid.
KEY-WORDS:  lactic acid, muscular metabolism, nobel prize.

INTRODUÇÃO

Archibald Vivian Hill e Otto Fritz Meyerhof, cientistas do século XX, realizaram grandes contribuições para a comunidade científica. Tendo em vista a pouca disponibilidade de informações sobre esses na língua portuguesa - e até mesmo em outros idiomas - pretendemos, a partir do presente artigo, ajudar a preencher um pouco dessa lacuna, relatando seus principais achados, com ênfase nos experimentos que os levaram a receber o prêmio Nobel em 1922, cujo teor auxiliou um melhor entendimento do metabolismo muscular.
Apesar de hoje considerarmos falhas em certos pontos, suas descobertas nesse sentido impulsionaram, indiscutivelmente, o surgimento de estudos mais aprofundados em bioquímica. Ou seja, estimularam de maneira enfática a posterior descoberta de complexas rotas metabólicas. 
Transpondo as dificuldades da época, Hill e Meyerhof trabalharam em conjunto e estabeleceram hipóteses acerca da produção de calor e da maneira com que esse seria aproveitado pelo músculo, além da relação fixa entre o consumo de oxigênio e o metabolismo do ácido lático.
O presente estudo contém, portanto, um breve histórico do Prêmio Nobel de Medicina ou Fisiologia de 1922, seguido da biografia dos pesquisadores contemplados e suas descobertas e conclusões.

CONCEITOS

Ergômetro: É um aparelho que faz registro do trabalho muscular. (DICIONÁRIO BRASIELIRO DA LÍNGUA PORTUGUESA, 1994, p. 324).
Tetanização: À medida que a freqüência de estimulação ao músculo aumenta, é atingido um ponto no qual cada nova contração ocorre antes do término da precedente. Como resultado, uma segunda contração é acrescentada, parcialmente, à primeira, de forma que a força total da contração sobe progressivamente com o aumento da freqüência. Quando a freqüência alcança um nível crítico, as contrações sucessivas são tão rápidas que chegam literalmente a fundir-se, com a contração parecendo ser completamente uniforme e contínua. Isso é denominado tetanização. (GUYTON & HALL, 2002, p. 72).
Ácido lático: Esse ácido parecia ser inicialmente produzido e liberado na corrente sanguínea, onde era tamponado pelo sistema do bicarbonato. Posteriormente, acreditou-se que liberava um próton e retornava a lactato sendo tamponado pelo sistema do bicarbonato. Novas pesquisas têm demonstrado que de fato não há nenhuma produção de ácido lático e que o produto final da via anaeróbia é o lactato, que não é um ácido e não produz acidose, além de atuar como um tampão aumentando também o potencial redox da glicólise. Esse ácido atualmente permanece como um mito devido às condições históricas que foram impostas. (www.educacaofisica.org).

DESENVOLVIMENTO

Antes dos achados de Archibald Vivian Hill, muitas investigações haviam sido realizadas acerca dos mecanismos que envolvem o funcionamento muscular, porém sem obter resultados de grande valor.  A partir de considerações e observações termodinâmicas, Archibald investigou a conexão entre a taxa de gordura, o trabalho realizado e a produção de calor pelo músculo, trazendo ao conhecimento científico os mecanismos musculares que são de interesse teórico e de importância prática a todos que trabalham nesse meio. (www.nobelprize.org)
Para realizar a sua investigação, o processo mecânico seria observado conectando o músculo aos registradores, aos ergômetros e às alavancas apropriados, mas, para o estudo do mecanismo completo, ele verificou ser necessário começar pelo processo intermediário, algo que acontece entre o estímulo e a resposta muscular, isto é, algo associado com os eventos químicos que promovam a contração. Essas informações foram fornecidas pela investigação da produção de calor. (Ibid)
Archibald reconhecia o fato de que a vantagem do estudo termodinâmico do músculo é que o calor poderia ser medido em unidades absolutas, rapidamente e em uma vez, e o tempo-curso de sua evolução poderia ser analisado por meios apropriados. No estudo das mudanças térmicas, os mais consistentes e valiosos resultados por ele obtidos o foram através da utilização da contração isométrica do músculo sartório da rã. Ele levou em consideração a idéia de que esse músculo é um meio muito apropriado para essa investigação pois ele é praticamente de seção transversal uniforme e consiste nas fibras retas que funcionam ao longo de seu comprimento. Considerou também que a contração isométrica tem a vantagem, primeiramente, que a energia liberada por ela é somente na forma de calor, de modo que nenhuma complicação se levantasse tendo que somar as mudanças térmicas com o trabalho mecânico, e secundariamente, que nela os movimentos dos instrumentos utilizados não são permitidos, evitando os erros devido às diferenças de temperatura ao longo do músculo. (www.nobelprize.org)
A dificuldade fundamental encontrada nas observações miotérmicas foi a minuciosidade das mudanças envolvidas e sua rapidez. Para isso, Hill constatou ser necessária a utilização de um instrumento termométrico muito sensível e a rapidez e clareza extremas nos instrumentos de gravação. Ele optou pela utilização da termopilha e de galvanômetros sensíveis e rapidamente móveis. (Ibid)
Em sua pesquisa, mostrou-se necessário realizar uma análise dos resultados obtidos, preferivelmente após a gravação fotográfica da deflexão do galvanômetro, pois a possibilidade de analisar o tempo-curso da evolução do calor em uma contração muscular dependia de determinadas propriedades físicas do sistema empregado. Ele observou que a condução do calor, a relação entre f.e.m. (força eletromotriz) e temperatura, os movimentos do galvanômetro, sua dinâmica, o controle nela para movimentos pequenos, todos os fatores conectados com a deflexão do galvanômetro, resultando da mudança de temperatura de um objeto em contato com a termopilha, era governada por equações diferenciais lineares com coeficientes constantes. (Ibid)
Archibald baseou-se na idéia de que um músculo deveria, primeiramente, ser morto pelo clorofórmio, e então uma determinada corrente alternada de força deveria ser passada por um determinado tempo, com a resistência medida do músculo, de modo que uma quantidade definida de calor pudesse ser liberada e a deflexão resultante do galvanômetro lida. Uma comparação dos dois daria o valor em unidades absolutas (calorias) de uma divisão da escala do galvanômetro. Dessa forma, ele realizou uma análise do tempo-curso da evolução do calor no músculo quando estimulado. Constatou que uma quantia de calor liberada de repente em um determinado tempo conduz a uma deflexão do galvanômetro, que se levanta ao máximo e cai lentamente a zero devido à condução afastada do calor. (www.nobelprize.org)
Uma das observações mais adiantadas do Sr. Hill no assunto era de que a deflexão do galvanômetro persiste por muito mais tempo em um músculo vivo do que em um experimento controle. Definiu que esse fenômeno poderia ser devido somente a uma produção atrasada de calor, e ele descobriu que este calor da “recuperação”, como o chamou, é apreciável somente no oxigênio, sendo abolido mantendo o músculo no nitrogênio ou com o exercício prévio violento o suficiente para usar o oxigênio dissolvido no músculo. Archibald estabeleceu a existência de uma produção de calor da recuperação que fosse natural associar com a remoção oxidativa do ácido lático descoberta por Fletcher e por Hopkins. (Ibid)
Fletcher e Hopkins tinham encontrado que o ácido lático era removido na presença de oxigênio, pensando que o mesmo músculo do final do processo da recuperação pode liberar, durante o exercício físico, a mesma quantidade de ácido lático que antes. As experiências precedentes de outros estudiosos tinham mostrado que a produção de um grama do ácido lático no rigor conduz a liberação de aproximadamente 500 calorias. Se o calor da recuperação fosse igual ao calor inicial, a remoção oxidativa de um grama de ácido lático conduziria à produção de aproximadamente 500 calorias, o que representaria menos de 1/7 do calor da oxidação do ácido. A conclusão, que não foi aceita no início, pareceu inevitável ao Sr. Archibald: o ácido lático não seria removido pela oxidação, ele seria restaurado ao precursor de que veio. Essa conclusão foi confirmada pelas experiências posteriores de Meyerhof. (Ibid)
O estudo do tempo-curso real da produção de calor necessitou de experiências mais elaboradas e mais cuidadosas do que as feitas por Archibald, sozinho, em 1913. Desde a guerra, ele teve a cooperação nesta e em outras matérias de seu amigo W. Hartree, cuja a habilidade no trabalho experimental e no cálculo fez possível alcançar um grau de certeza na análise que poderia nunca ter alcançado sozinho. Pela gravação fotográfica e pela análise numérica exata da deflexão do galvanômetro por dez minutos após a estimulação do músculo, foi possível descrever o todo do tempo-curso da produção do calor na recuperação. Constatou que o processo da recuperação é uma parte fundamental do mecanismo inteiro do músculo e o oxigênio é usado somente neste processo, um fato que conduziu a um conceito novo da natureza da máquina muscular. (www.nobelprize.org)
Archibald Vivian Hill reconheceu o fato de que a análise da produção do calor da recuperação é comparativamente simples porque sua evolução é lenta. Foi desejável, entretanto, para analisar também a produção do calor nas fases mais adiantadas da contração,uma pesquisa mais aprofundada. Observou que depois de um único choque o músculo mostra duas fases da contração, do desenvolvimento e do desaparecimento da resposta mecânica - contração e relaxamento; a tetania mostra três fases, contrações, relaxamento e manutenções. Era desejável analisar os processos químicos associados com cada uma destas fases. Os resultados encontrados por ele foram uma quantia grande de calor durante o desenvolvimento da contração, uma produção continuada de calor durante a manutenção da contração, alcançando uma taxa constante enquanto a contração é prolongada, e uma evolução comparativamente grande e repentina do calor durante o relaxamento. (Ibid)
Um outro fato percebido pelo pesquisador foi o de que, no músculo, a energia é requerida para ajustar a contração, e mais energia é solicitada se o trabalho for feito. Essa energia seria necessária para manter uma contração e, durante o relaxamento, a energia potencial da tensão possuída por um músculo durante a contração teria que desaparecer, ela seria então encontrada na forma de calor. Se a contração fosse mantida por muito tempo, haveria uma produção constante do calor durante o todo desse tempo, proporcional à tensão desenvolvida. (Ibid)
O ponto mais importante trazido por esta análise da produção inicial do calor foi a relação da influência, ou da ausência da influência, do oxigênio. A conclusão essencial pôde ser extraída meramente comparando as curvas da deflexão com e sem o oxigênio. Hill observou que a presença ou a ausência do oxigênio não teve nenhum efeito no valor da produção inicial do calor. Nenhuma diferença pôde ser detectada entre as curvas obtidas: (a) de um músculo no oxigênio puro, e (b) de um que foi privado do oxigênio na maneira mais rigorosa por diversas horas. A conclusão foi importante e suplementou as observações descritas previamente na produção do calor da recuperação: o oxigênio não seria usado na avaria preliminar em tudo, mas somente no processo da recuperação. (www.nobelprize.org)
Archibald constatou que há um efeito importante da temperatura na taxa em que a produção total do calor aumenta enquanto o músculo continua a ser tetanizado - a taxa da produção do calor é maior na temperatura mais alta. O estudo revelou o poder curioso que um músculo possui de adaptar sua liberação de energia ao trabalho que tem que fazer. O assunto era novo e os resultados somente estavam começando a aparecer, mas estava absolutamente certo que Archibald e seus colegas estavam tratando de uma propriedade fundamental da máquina muscular. (Ibid)
Otto Fritz Meyerhof seguiu a linha de pesquisa no músculo, todavia enfocando as transformações químicas ocorridas nesse órgão. Ele sempre admitiu o fato de que processos químicos deveriam estar envolvidos como uma fonte de energia para o desempenho do músculo, baseando-se na própria tese dos descobridores da lei de conservação da energia. Observações a respeito do assunto já haviam sido feitas, todavia essas eram desprovidas de conhecimentos totais no âmbito da natureza química de substâncias relevantes. (Ibid)
Os cientistas ingleses, Fletcher e Hopkins, reconheceram o fato que a formação do ácido lático no músculo estava intimamente conectada ao processo de contração muscular. Essas investigações foram as primeiras a atirar uma luz sobre o fato altamente paradoxal, já estabelecido pelo fisiologista Hermann, que o músculo poderia  desempenhar uma parte considerável de sua função na completa ausência  de oxigênio. (Ibid)
De fato, Fletcher e Hopkins observaram que na ausência de oxigênio no músculo, aparecia ácido lático, lentamente no estado relaxado e rapidamente no estado ativo, e que o ácido lático desaparecia novamente na presença de oxigênio. Obviamente, então, o oxigênio estaria envolvido não enquanto o músculo está ativo, mas somente quando o músculo está no estado relaxado. (www.nobelprize.org)
Qual seria a relação do ácido lático com o desempenho muscular? De onde viria e em que se tornaria quando desaparecia na presença do oxigênio? Essas eram as questões que instigavam Otto Fritz Meyerhof e que, no seu tempo, estavam completamente obscuras. Existiam várias interpretações correntes, mas todas sem experimentos suporte. Assim estava o cenário quando ele começou a trabalhar na questão. (Ibid)
Nesse âmbito, Otto considerou “uma luz brilhante no meio da obscuridade” – segundo suas palavras em sua palestra do Nobel - quando o Professor Hill fez a descoberta de que o calor de contração do músculo ocorria em duas fases distintas de aproximadamente mesma extensão: uma fase inicial, diretamente conectada com o trabalho e que seria a mesma na presença ou ausência de oxigênio, chamada de calor inicial; e uma segunda fase, que basicamente ocorreria na presença de oxigênio, nomeada calor retardado e que estaria conectada com o desaparecimento do ácido lático. (Ibid)
Meyerhof começou seus experimentos sobre essa questão utilizando-se de um músculo de sapo isolado. Verificou que se esse operasse sobre suprimento de oxigênio máximo, somente certa quantidade de glicogênio do músculo desaparecia (provado através de uma análise química), ao passo que uma quantidade suficientemente exata de oxigênio necessário para essa oxidação era assimilada, e a quantia correspondente de dióxido de carbono era emitida. Verificou que a conexão entre esses processos poderia ser analisada mais exatamente se ao músculo fosse permitido trabalhar primeiramente sob condições anaeróbicas, e subsequentemente aeróbicas. (Ibid)
Também percebeu que durante a fase anaeróbica, ou seja, em ausência de oxigênio, o ácido lático se acumulava no músculo aproximadamente na proporção da quantia do trabalho desempenhado. Ao mesmo tempo, uma quantidade correspondente de glicogênio desaparecia, enquanto uma quantidade menor de carboidratos, particularmente glicose livre e ácido hexosefosfórico, não era visivelmente alterada. (Ibid)
Já na fase aeróbica, ou seja, quando o oxigênio estava presente, o ácido lático formado desaparecia, enquanto uma quantidade extra específica de oxigênio era assimilada. Esse desaparecimento de ácido lático se dava na proporção exata do aumento do consumo de oxigênio. No entanto, o oxigênio era somente suficiente para oxidar uma fração de ácido lático que desaparecia; o restante era reconvertido em glicogênio. (www.nobelprize.org)
Otto fez a ressalva que a taxa de ácido lático que desaparecia em geral para aquilo que era queimado não era sempre uma constante sob todas as condições. Segundo suas observações, sob condições de fadiga anaeróbica extrema e subseqüente recuperação em oxigênio, para cada quatro moléculas de ácido lático desaparecidas, três seriam convertidas então em glicogênio e este oxidado. Ressaltou que não poderia sustentar com certeza sempre se o ácido lático mesmo seria queimado. Somente encontrou um carboidrato equivalente oxidado. Se aquilo era açúcar ou ácido lático, não pôde ter certeza. Por esse motivo, escolheu a seguinte formulação para as duas fases: na anaeróbica, fase ativa do glicogênio seria quebrada em ácido lático via glicose, pelo caminho do ácido hexose-difosfórico. A decomposição de cinco açúcares equivalentes do glicogênio estaria suposta em que quatro seriam esterificados com ácido fosfórico e formariam oito moléculas de ácido lático. Já na segunda, fase aeróbica essas oito moléculas de ácido lático desapareciam enquanto duas delas, ou uma molécula de açúcar, seriam queimadas. (Ibid)
Meyerhof via o metabolismo ativo no músculo não como um fenômeno separado, mas como um aumento no metabolismo no estado de descanso. Para cada estado de descanso o glicogênio dentro de um músculo isolado em oxigênio desapareceria diretamente a propósito da oxidação em dióxido de carbono e água. Se, no entanto, mantivesse o músculo descansado em nitrogênio em um tempo considerável, o ácido lático era constantemente acumulado durante a fase anaeróbica. Comparando a acumulação do ácido lático com a quantidade de oxigênio que o músculo deveria ter assimilado no mesmo tempo sob condições aeróbicas, encontrou, aproximadamente, três vezes a quantidade de ácido lático acumulado que deveria ter sido consumido pelo oxigênio na mesma quantidade de tempo. Aqui também, então, o ácido lático não seria somente um simples produto intermediário da decomposição do açúcar. Trazendo o músculo de volta para o ar depois de extensa anaerobiose, ele  assimilava uma certa quantidade extra de oxigênio aproximadamente o equivalente à quantidade previamente perdida. Ao mesmo tempo, o ácido lático desaparecia, mais uma vez, no caminho que a maioria dele era reconvertida em glicogênio, ao passo que somente uma fração, ou a quantidade correspondente de carboidrato era consumida. (www.nobelprize.org)
Quando o músculo estava ativo o processo seria exatamente o mesmo, somente o progresso de acumulação de ácido lático era muito mais devagar. Otto considerou que, a  respiração no músculo no estado de descanso poderia ser dita para mantê-lo em um estado de prontidão para a atividade. (Ibid)
Estabeleceu que o ácido lático estaria associado com a contração muscular por uma comparação exata do trabalho desempenhado sob condições anaeróbias com a formação do ácido lático. Seguindo Fick e o Professor Hill, a tensão que o músculo desenvolveria em uma estimulação quando impedia de diminuição, então chamada contração isométrica. Permitindo ao músculo continuar trabalhando sob condições anaeróbicas até que estivesse exausto ele produziria uma certa quantidade de ácido lático e desenvolveria um grau de tensão em proporção à essa quantidade. Otto observou que esse trabalho anaeróbico total poderia ser muito considerado – por exemplo, um músculo de sapo de um grama de peso em gás nitrogênio (gás) poderia  produzir 160kg de tensão em 1000 contrações. (Ibid)
Encontrou uma razão explicando o porquê da limitação para aquilo e porque a atividade não continuava de fato quando o glicogênio disponível era utilizado. Era pensado antigamente, e em particular por Fletcher e Hopkins, que foram os primeiros a se tornarem conscientes da então chamada fadiga máxima, e que isso estava condicionado pela exaustão de um estágio preliminar imediato do ácido lático. Isso, no entanto, parecia ser devido a acumulação do próprio ácido no músculo. Removendo uma grande parte do ácido do músculo colocando em uma solução de Ringer particularmente rica em bicarbonato, produz antes da exaustão total não somente muito mais ácido lático, mas também mais trabalho correspondente. Pela adição de várias misturas amortecedoras ao músculo foi provado que o aumento no desempenho devido a essa mistura adicionada corresponde a quase exatamente a porcentagem de ácido lático que escapava do músculo dentro da solução circundante. (www.nobelprize.org)
Essas reações químicas somente se tornaram claras quando Meyerhof considerou as condições energéticas. Na fase anaeróbica ativa, o ácido lático seria formado do glicogênio, e uma taxa de 1g de ácido lático de 0,9g de glicogênio, durante a formação de cada 180g de ácido lático 18g de água são absorvidas. (Ibid)
Tal descoberta foi importante devido à existência de uma grande lacuna na bioquímica da época. Isso impulsionou novas descobertas nessa importante fração de conhecimento que hoje é composta de complexa teia de reações e enzimas que foram descobertas posteriormente. (Ibid)
BIOGRAFIA DOS PESQUISADORES
Segundo informações coletadas nos sites www.sobiografias.hpg.ig.com.br e www.nobelprize.org, Archibald Vivian Hill foi um fisiologista britânico nascido em Bristol, no dia 26 de setembro de 1886. Foi pesquisador em músculos e nervos e professor da Universidade de Londres, co-vencedor do Prêmio Nobel de Medicina (1922) pela descoberta relativa à produção de calor pelos músculos, juntamente com Otto Fritz Meyerhof.
Inicialmente educado na Blundell's School, Tiverton, obteve vaga para o Trinity College, Cambridge, onde estudou matemática conseguindo o Mathematical Tripos, sendo Third Wrangler (1907). Após se graduar foi orientado pelo Dr. Walter Morley Fletcher a pesquisar em fisiologia. Iniciou seus trabalhos (1909) estudando a natureza das contrações musculares. 
Tendo obtido um Fellowship em Trinity (1910), viajou para a Alemanha onde trabalhou com Bürker e Paschen (1910-1911). No período anterior a guerra (1911-1914), continuou suas pesquisas em contração muscular, em Cambridge, além de estudar impulsos nervosos com Keith Lucas, hemoglobina com Barcroft, e calorimetria dos animais com T. B. Wood, Gaskell, Anderson, W. B. Hardy, Mines, Adrian, Hartridge e outros. 
Casou-se com Margaret Neville Keynes (1913) e o casal teve dois filhos e duas filhas. Foi nomeado professor universitário de físico-química, em Cambridge (1914). 
Durante a guerra serviu como capitão e major, e como diretor do Anti-Aircraft Experimental Section, Munitions Inventions Department. Foi nomeado (1920) Brackenburg Professor de fisiologia da Manchester University, e (1923-1925) Jodrell Professor de fisiologia na University College, Londres, sucedendo E. H. Starling. Foi apontado Foulerton Research Professor da Royal Society (1926) e esteve no laboratório biofísico na University College (1926-1952), retornando após ao departamento de fisiologia, onde continuou com seus experimentos. 
Durante a II Grande Guerra, serviu em várias comissões como membro do War Cabinet Scientific Advisory Committee (1940-1946), presidente da Research Defence Society (1940-1951) e presidente do Comitê Executivo do Laboratório Nacional de Física (1940-1945). Como homem público, foi membro do Parlamento (1940-1945), representando a Universidade de Cambridge na House of Commons como um Independent Conservative. Também foi membro do University Grants Committee (1937-1944), serviu no Comitê de Ciências do Conselho Britânico (1946-1956) e foi nomeado um Trustee do British Museum (1947).
Além de muitos documentos, escreveu livros importantes como Muscular Activity (1926), Muscular Movement in Man (1927), Living Machinery (1927), The Ethical Dilemma of Science and Other Writings (1960) e Traits and Trials in Physiology (1965). 
Foi eleito membro da Royal Society (1918) e secretário estrangeiro (1946). Além do Nobel e vários graus honorários em universidades britânicas e de outros países, recebeu a Medal of Freedom, U.S.A. (1947) e a Society's Copley Medal (1948). Tornou-se Chevalier da Legião de Honra (1950) e tornou-se presidente (1952) da Sociedade Britânica para o Avanço da Ciência. 
Archibald Vivian Hill morreu no dia 3 de junho de 1977. 
Otto Fritz Meyerhof nasceu em 12 de abril de 1884, em Hannover. Era filho de Felix Meyerhof, comerciante, e de Bettina May. Logo depois do nascimento, sua família mudou-se para Berlin, onde Otto foi para o Wilhelms Gymnasium (escola secundária clássica). Deixando a escola com 14 anos, ele foi atacado, com 16 anos, por um problema renal e teve que passar longo em inatividade. Após a recuperação, estudou medicina em Freiburgo, Berlin, Strausburgo, e Heidelberg.
Graduou-se em medicina em 1909 com uma tese sobre assunto psiquiátrico e devotou para si tempo para psicologia e filosofia, publicando um livro intitulado de  Beiträge zur psychologischen Theorie der Geistesstörungen (Contribuições para a teoria psicológica dos distúrbios mentais) e um ensaio no Goethes Methoden der Naturforschung (Métodos de pesquisa científica de Goethe). Sob influencia de Otto Warburg, que estava então na Heidelberg, tornou-se cada vez mais interessado em fisiologia celular. Depois de trabalhar um pequeno tempo em físico-química em Heidelberg, Meyerhof ficou um período no laboratório da clínica Heidelberg e na estação zoológica em Naples. 
Em 1912 foi para Kiel, onde foi qualificado em 1913, como conferencista universitário em fisiologia. Em 1915, Meyerhof foi nomeado Assistente do Instituto de Fisiologia e em 1918 tornou-se Professor Assistente.  Meyerhof foi premiado, juntamente com o fisiologista inglês A. V. Hill, Premio Nobel por fisiologia ou Medicina de 1922. Em 1924, foi convidado pelo Kaiser Wilhelm Gesellschaft para ingressar em um grupo de trabalho no Berlin-Dahlem, que incluía Neuberg, F. Haber, M. Polyani, e H. Freundlich.
Já em 1929, foi convidado a tomar conta do novo Instituto Kaiser Wilhelm para Pesquisa Médica em Heidelberg. Passado algum tempo, 1938, as condições ficaram muito difíceis e ele decidiu deixar a Alemanha. De 1938 a 1940 foi diretor de pesquisas no Institut de Biologie physico-chimique em Paris, onde foi ajudado financeiramente pela Fundação Josiah Macy Jr.
No entanto, em junho de 1940, quando os Nazistas invadiram a França, Meyerhof teve que fugir de Paris. Com a ajuda do Comitê de Serviço Unitário, ele alcançou a Espanha e finalmente, em outubro de 1940, os Estados Unidos, onde o cargo de Professor pesquisador de Química Fisiológica foi criado para ele na Universidade da Pensilvânia e Fundação Rockefeller.
Entre outras honras e distinções, Meyerhof foi membro estrangeiro da Harvey Society e da Royal Society de Londres, e membro da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos.
No período em que esteve na América, além da ciência, mostrou que não tinha renunciado aos seus interesses em filosofia apresentando para a Celebração Bienal Goethe da Sociedade Rudolf Virchow em Nova Iorque uma profunda e crítica avaliação das idéias científicas de Goethe. Através de sua vida ele reteve grande amor por arte, literatura e poesia. Seu interesse pela pintura foi muito estimulado por sua esposa Hedwig Schallenberg, pintora, com quem ele casou em 1914. Houve três crianças desse casamento.
Em 1944 ele sofreu um ataque do coração; em 1951 outro que acabou com sua vida. 
CONCLUSÃO
O Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina de 1922, atribuído aos pesquisadores Archibald Vivian Hill e Otto Fritz Meyerhof, destacou a importância das descobertas relativas ao metabolismo muscular por eles realizadas. Seus achados mostraram-se de extrema importância à medida em que foram precursores na pesquisa de produção de calor pelo músculo e metabolismo do ácido lático, que até então constituíam temas que geravam muitas dúvidas no âmbito da comunidade científica. Com suas descobertas e observações, esses pesquisadores estimularam posteriores estudos a respeito do assunto, apontando para uma nova fase da fisiologia muscular.
Além disso, o presente trabalho contribuiu para aumentar nosso espírito investigativo acerca das descobertas feitas por grandes pesquisadores e seu legado imprescindível ao meio médico. Analogamente, constatamos que esse tipo de revisão bibliográfica instiga a nossa curiosidade com relação à pesquisa, servindo como paradigma às nossas futuras condutas nesse âmbito.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, 1994
Guyton & Hall, Tratado de Fisiologia Médica, 2002
www.educacaofisica.org  Ácido lático: ficção ou fato?, MATHIAS, Alexandre P., acesso em 23/09/2005;
www.nobelprize.org  Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina de 1922, acesso em 08/08/2005;
www.sobiografias.hpg.ig.com.br  Archibald Vivian Hill, acesso em 08/08/2005;
www.sobiografias.hpg.ig.com.br  Otto Fritz Meyerhof, acesso em 08/08/2005;
Orientadores:
Evânia Araújo
Jorge Salton
 

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