Vacina contra as drogas

Vacina contra as drogas

02/10/2019
Vacina contra as drogas

IMUNIZAÇÃO CONTRA O ABUSO DE DROGAS
Autores

Felipe Rossatto Franceschi

Mario Henrique Lazaretto Padua

Paola Piva de Freitas

 
Introdução
Droga é qualquer substância, natural ou sintética, que introduzida no organismo modifica suas funções. Do ponto de vista jurídico, consideram-se como drogas as substâncias ou produtos capazes de causar dependência.
As drogas, quando na corrente sanguínea, fragmentam-se em pequenas partículas, permeáveis à barreira hematoencefálica. No cérebro, elas agem direta e indiretamente sobre a modulação da dopamina, aumentando sua quantidade e tempo de permanência nas fendas sinápticas, através de dois mecanismos: estímulo da liberação e/ou bloqueio da re-captação.
Todo tipo de utilização de drogas e a subsequente sensação de prazer gerada pelo uso estão associadas ao circuito de recompensa cerebral, e consequentemente à quantidade de dopamina disponível na fenda sináptica.
Ainda não há informação consistente sobre o mecanismo da dependência física do uso de drogas. Uma teoria sugere que as drogas de abuso causam um “curto-circuito” no sistema de recompensa cerebral, estimulando-o pela maciça liberação de dopamina, o que gera a sensação de prazer. Essa sensação faz com que o organismo funcione em busca de estimulação repetitiva, deixando em segundo plano todas as demais atividades.
 
Imunoterapias contra as drogas
Como dito anteriormente, as drogas são moléculas pequenas que passam facilmente pela barreira hematoencefálica; então, quando unidas a uma molécula grande, como um anticorpo, por exemplo, não conseguem passar essa barreira, e, não entrando no SNC, não executam seu efeito. 
Hoje, vários estudos sobre a imunização antidrogas estão sendo realizados. Testes já concluídos, executados com animais, demonstraram a efetividade de ambas as formas de imunização (vacina e soro), que podem reduzir em até 80% o efeito das drogas. Em humanos, a vacina Xenova®, contra a cocaína, está apresentando bons resultados e poucos efeitos colaterais.
A seguir, são descritos os dois tipos de imunização antidrogas que estão sendo desenvolvidos atualmente.
 
Imunização Ativa
É a vacina propriamente dita. Consiste em proteínas conjugadas a drogas que são periodicamente administradas para estimular o corpo a produzir seus próprios anticorpos antidrogas. 
A imunização ativa foi examinada para a nicotina, cocaína, heroína e meta-anfetamina. É indicada para evitar recaídas e proteger populações em risco, como grávidas e adolescentes.
 
Vantagens

  • Não requerem administração diária, podendo ser usadas periodicamente a cada 2-3 meses;
  • Como não agem diretamente no SNC, podem ser usadas juntamente com medicamentos como antidepressivos, sem interferir na ação destes.
  • São mais toleráveis do que as medicações usadas atualmente, resultando numa menor desistência do tratamento.

 
Desvantagens

  •  Não bloqueiam os efeitos da droga em todas as circunstâncias. Dependendo do modo de uso, como na inalação, os anticorpos não têm tempo para agir; 
  • Pacientes podem evitar os efeitos das vacinas fazendo uso de outras drogas, ou de combinações delas. Isso se deve à alta especificidade das vacinas, que agem sobre apenas uma determinada droga;
  • Não podem ser usadas em pacientes imunodeficientes (aidéticos, p. ex.), por não possuírem um sistema imunológico apto para produzir anticorpos.

 
Imunização Passiva
Análoga ao soro, consiste em anticorpos já formados que são injetados na corrente sanguínea; os mais apropriados são os mAb (anticorpos monoclonais). 
A imunização passiva foi testada para a cocaína, meta-anfetamina e nicotina. Seu uso é recomendado principalmente para reverter estados de overdose.
 
Vantagens

  • Produzem um efeito quase imediato, ao contrário das vacinas, que necessitam de tempo para agir;
  • ?Estudos indicam que podem eliminar as drogas do corpo mesmo quando elas atingem níveis sanguíneos fatais.

 
Desvantagens

  •  O custo de produção de mAb é atualmente muito elevado. Apenas com mais investimentos em pesquisas desse gênero poder-se-ia baratear os custos dos anticorpos;
  • Têm uma meia-vida curta, servindo apenas para curar a overdose.

 
Questões Éticas e Sociais
Mesmo que as terapias discutidas anteriormente sejam uma grande promessa contra as drogas, ainda existem muitas questões que precisam ser debatidas antes que se faça uso indiscriminado das mesmas. As principais questões éticas e sociais são discutidas a seguir:

  • As vacinas podem servir como um estímulo para o abuso de drogas, já que atenuam o efeito delas, levando o usuário a um consumo cada vez maior delas para obter o mesmo nível de prazer. Soma-se a isso o fato de que essa atenuação ocorre naturalmente em qualquer usuário, independente da vacina/soro.
  •  Deve-se considerar o impacto da imunização em adolescentes; isso pode servir de estímulo para utilizar doses mais elevadas da droga, a ponto de superar os efeitos dos anticorpos; como consequência, necessitam de muito mais dinheiro para sustentar seu vício, que exige uma quantidade muito alta de drogas.
  •  O uso de vacinas específicas contra as drogas, à exceção da nicotina, torna possíveis discriminações e preconceitos, sendo que um simples exame de sangue pode revelar um passado de dependência.
  • O uso de tratamentos contra as drogas são bem-sucedidos apenas em indivíduos que têm motivação para encerrar o uso de drogas; considera-se também que, para a aplicação da vacina, deve-se garantir o livre consentimento do paciente, com pleno conhecimento de seus efeitos e dos riscos que sua utilização implica.
  • Esses tratamentos prometem ser de alto custo, impedindo indigentes e pobres de terem acesso à vacina. Para ter impacto social, seriam necessários subsídios públicos.

 
Referências Bibliográficas
 
1. KOSTEN T., OWENS, S.M. Immunotherapy for the treatment of drug abuse. Pharmacology & Therapeutics. 2005; 108; 76-85.
2. KANTAK K.M. Vaccines Against Drugs of Abuse. Drugs. 2003; 63 (4); 341-352.
3. MONTOYA I.D. Inmunoterapias para las adicciones a las drogas. Adicciones. 2008; vol. 20; 2; 111-116.
4. HALL W., CARTER L. Ethical issues in using a cocaine vaccine to treat and prevent cocaine abuse and dependence. J. Med. Ethics. 2004; 30; 337-340.
5. ASHCROFT R.E., FRANEY C. Further ethical issues in using a cocaine vaccine: response to Hall and Carter. J. Med. 2004; 30; 341-343.
 

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