Onde há fumaça há um caluniador
Nas campanhas eleitorais é comum a prática de crimes contra a honra como a injúria, a difamação e a calúnia. Injúria consiste em atribuir adjetivo desonroso ao adversário. Difamação consiste em imputar a ele fato ofensivo a sua reputação. Calúnia consiste em acusação de conduta criminosa.
Tempo precioso do necessário debate sobre os destinos dos nossos municípios é gasto com tais ações. São ativadas as chamadas “centrais de boatos” que, quanto menor a cidade, maior poder tem de atingir todos os eleitores e influir no resultado do pleito. Afirmativas como “onde há fumaça há fogo”, são armas utilizadas pelos caluniadores.
Muitos jovens bem intencionados evitam a carreira política por receio desse tipo de agressão psicológica. Sabem que quando um adversário não tem “rabo”, inventam um “rabo” para ele. Shakespeare (1564-1616) já alertara: “Mesmo que sejas tão puro quanto à neve, não escaparás à calúnia”.
Os eleitores devem tentar identificar aqueles que operam tais “centrais de boatos”. Se o fizerem, e forem bem-sucedidos, encontrão dois tipos de caluniadores: os eventuais e os sistemáticos. Os primeiros assim agem apenas em seus “piores momentos”: são capazes de reconhecer o erro e de se redimir. Já os últimos são indivíduos que não se culpam pelas agressões cometidas e não se corrigem. Numa eleição podem estar a serviço de uma facção política e já na seguinte operar a boataria caluniosa para a facção oposta.
Apresentam personalidade anti-social – também denominada de sociopata e de psicopata – e deveriam ser impedidos pela lei de exercer funções relevantes pelo potencial de desagregação da harmonia social que possuem. A propósito: algumas faculdades de medicina tentaram no passado impedir o ingresso de anti-sociais em seus cursos e não conseguiram devido a direitos concedidos pela atual legislação.
Na prática, portanto, cabe aos eleitores a tarefa de não se deixar conduzir pelos caluniadores e de não se colocar ingenuamente a seus serviços. Titus Maccius Plautus (254-184 a.C), em uma de suas centro e trinta peças, escreveu: “Os que propalam a calúnia e os que a escutam, se prevalecesse minha opinião, deveriam ser enforcados, os primeiros pela língua e os outros pela orelha”.
Há uma grande preocupação atualmente em nosso país em relação ao comportamento dos indivíduos que atuam na política. Sabemos o quanto suas atitudes trazem de conseqüência para a democracia, para a gestão dos negócios públicos e para a educação ou deseducação ética e moral da sociedade. Sabemos também da nossa contribuição como eleitores. E ela se faz até mesmo na maneira como compreendemos as “fumaças” destes tempos de votação. Em vez de repetir que “onde há fumaça há fogo”, devemos afirmar que “onde há fumaça há um caluniador”.