Futebol: O porquê de tanto sofrimento

Futebol: O porquê de tanto sofrimento

02/10/2019
Futebol: O porquê de tanto sofrimento

Um número significativo de torcedores sofre periodicamente de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). O desencadeante é uma derrota de seu time vivenciada como um evento excepcionalmente catastrófico. Uma derrota inesperada, incabível, geradora de perplexidade.

Num primeiro momento, o torcedor pode apresentar sintomas de um estresse agudo: poucos minutos após o ocorrido surge nele uma sensação de atordoamento, ansiedade, desespero, raiva, retraimento ou hiperatividade.
O TEPT aparece mais tarde como uma resposta tardia ao evento. Caracteriza-se pela volta a mente, sem o comando do individuo, da lembrança da derrota fatídica. Ela vem de forma invasiva, como flashbacks. Os sonhos podem ser tomados por pesadelos ligados ao fato estressor.
A dor emocional é muito grande e a sensação é de que não há saída, não há escape. O torcedor tende a se retrair, a evitar situações que lhe provoquem mais intensamente a sofrida lembrança. As vezes, ele fica hostil, adotando comportamentos incompatíveis com sua boa educação, mas compatíveis com a chamada raiva narcisista.
Ocorre que somos todos sujeitos a busca de prazeres narcisistas, daquela sensação de ser superior e mais poderoso: “papai é o maior”, “imortal”, etc. Uma vez que ocorre a narcisação do futebol e do “meu clube”, estou inevitavelmente sujeito ao sofrimento narcisista. Uma armadilha, já que no futebol e em qualquer esporte competitivo convive-se com derrotas. 
No Brasil, vice-campeonato não significa nada. Só interessa a posição de campeão. Tal fato atesta o quanto patologicamente promovemos a narcisação do futebol, pois o desejo narcisista só é satisfeito se nos sentimos superior a todos.
Para que o futebol não faça mal à saúde de tantos brasileiros, é necessário, portanto, deixar de promover a sua narcisação. Aliás, o problema, todos sabemos, vai bem além do Brasil. Na famosa série Os Simpsons, a certa altura um personagem explica para outro o que é o futebol, dizendo: “é aquela coisa que detonou a cabeça dos Europeus e dos Sul-Americanos”. (JORGE ALBERTO SALTON)

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