Falando com quem delira
Como conversar com uma pessoa que está fora da realidade, apresentando algum tipo de delírio ou idéia delirante?
Uma idéia delirante ou delírio consiste numa falsa crença, não corrigida pela confrontação com a realidade que tende a se expandir no interior do indivíduo e ocupar um espaço muito grande em seu pensamento. Os delírios mais comuns são os de perseguição (leia o texto ESQUIZOFRENIA: Uma Mente Brilhante) e o de grandeza (K-PAX: DELÍRIO DE GRANDEZA).
1. Não tente argumentar racionalmente persuadindo a pessoa a se convencer de que sua idéia não é real; a pessoa defenderá com cada vez mais tenacidade a legitimidade de sua idéia. Se o delírio é de perseguição, você poderá passar a ser visto como um de seus perseguidores.
2. Escute com paciência a pessoa. Observe o conteúdo do delírio e os sentimentos que o acompanham: raiva ou medo, por exemplo.
3. Comente com a pessoa o sentimento. Por exemplo: “Quando eu entro na sala de aula, o professor entra na minha mente e lê meu pensamento”. Pergunte: “E o que você sente nesta hora?”
4. Não se sinta obrigado a ter de dizer alguma coisa. O fato de você estar com ela, de ouvi-lo fará bem. A pessoa não se sentirá mais sozinha e sem ninguém a escuta-la.
5. Seja franco. Não entre no delírio. Diga que você não percebe como ela. Mas que você sente o quanto ela é honesta ao descrever a sua idéia, o quanto é verdadeira para ela.
6. Não ria automaticamente. Normalmente rimos quando alguém diz algo que nos parece engraçado. Porém, no caso, o engraçado pode não ser engraçado para a pessoa. Pode ser a sua crença.
7. No caso de delírio paranóide, a pessoa pode necessitar de certa distância com as pessoas. Respeite.
8. Use você mesmo como instrumento de avaliação. Aquilo que você sente no contato com a pessoa pode ser o que todos sintam. Por exemplo, se você sente medo, pode ser o que todos sintam. Assim, dá para entender porque o evitam. Se você se sente seduzido por seu delírio de grandeza (K-PAX: DELÍRIO DE GRANDEZA), isto pode ocorrer com todos.
Várias situações médico-psiquiátricas levam a pessoa a apresentar delírios: esquizofrenia, transtornos delirantes persistentes, transtorno afetivo psicótico, uso de certas drogas, entre outras. Algumas são de evolução crônica, os familiares e os amigos necessitam achar um modo de conviver com a idéia delirante sem entrar em atrito e, ao contrário, mantendo a maior proximidade afetiva possível.
(Jorge Alberto Salton)