09/10/2019
1928: CHARLES NICOLLE

Escrito por:
Sílvia Lago
Stéfanie Müller
Talvã Norberto

Resumo:


Abstract:
Palavras-chaves: Charles Jules Henri Nicolle, Prêmio Nobel, tifo e piolho.
Key words: Charler Jules Henri Nicolle, Nobel Prize, typhus and louse.
Introdução
No presente trabalho, relataremos a vida e pesquisa de Charles Jules Henri Nicolle até o momento da descoberta do parasita causador do tifo, situação que o levou a receber o Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina de 1928.  Procuraremos explicitar a história e importância deste grande pesquisador da área da saúde, que com suas descobertas contribuiu para o avanço da medicina. 

Desenvolvimento:

Tifo:
O Tifo Epidêmico, coloquialmente referido simplesmente como Tifo, é uma doença epidêmica transmitida pelos piolhos comuns do corpo humano e causada pela bactéria Rickettsia prowazekii.
  O Tifo é uma doença distinta e não relacionada à Febre tifóide que é causada pela Salmonella. Há outras formas semelhantes ao Tifo, como Tifo endêmico causado pela R.typhi e Tifo do mato causado pela Orientia tsutsugamushi (antigamente R.tsutsugamushi).
A primeira descrição reconhecível de Tifo foi dada em 1083 na Itália. Só em 1546 é que o famoso médico de Florença, Girolamo Fracastoro (o primeiro médico a defender os germes como causa das doenças), descreveu a doença em termos científicos.
Em 1909, Charles Nicolle identificou o piolho como vetor da doença. Ganhou em 1928 o Prêmio Nobel pela sua descoberta.
  Foi Henrique da Rocha Lima em 1916 quem identificou a bactéria Rickettsia prowazekii como responsável pela doença. O nome homenageia H. T. Ricketts e Stanislaus von Prowazek, dois zoólogos que perderam as suas vidas vítimas da doença ao investigá-la em 1915 numa prisão.
O Tifo foi uma importante causa de epidemias antes da Segunda Guerra Mundial. Atingia particularmente os exércitos em campanha e as populações prisionais.
Alguns historiadores acreditam que foi o Tifo a doença misteriosa que atingiu Atenas no século de Péricles (430 aC), um evento associado ao declínio dessa grande cidade-estado.
  Uma das epidemias mais importantes foi aquela que atingiu Napoleão Bonaparte e a sua Grande Armée na sua campanha de invasão da Rússia, em 1812. Durante a retirada da suas tropas após a destruição de Moscou pelos russos, as tropas de Napoleão foram reduzidas de 600.000 a 40.000 mais devido ao Tifo e ao frio que às tropas inimigas.
Outra epidemia mortífera surgiu na Irlanda entre 1846 e 1849 durante a fome da batata , onde o Tifo se uniu à destruição de um fungo parasita dessa cultura para reduzir, pela morte e emigração, a população da ilha para menos de um terço.
As medidas higiênicas militares, hoje parte importante da disciplina de todos os exércitos, foram introduzidas pelos franceses em reação à mortalidade pelo Tifo. A obrigatoriedade de rapar a barba e cortar o cabelo rente foram medidas inicialmente introduzidas nos soldados de forma a erradicar os piolhos transportadores da infecção.  Antes de se descobrir que a higiene e a limpeza das roupas reduziam as mortes por tifo, estas não eram grande preocupação para os oficiais. Devido a estas medidas, durante a primeira guerra mundial na frente ocidental quase não houve mortes de Tifo, enquanto na frente oriental, após a quebra de autoridade que se seguiu à Revolução de Outubro na Rússia Czarista, três milhões de pessoas morreram da doença.
Apesar de medidas baratas e fáceis de prevenção já serem conhecidas, os Nazistas deixaram centenas de milhares de presos nos seus campos de concentração, incluindo a maioria de Judeus, morrer da doença durante a segunda guerra.
O Tifo permanece uma ameaça as pessoas que vivem em condições anti-higiênicas e de pobreza. Enquanto houver pessoas que sejam reservatórios latentes de R. prowazekii, uma epidemia pode sobrevir. Um país com Tifo persistente é a Etiópia. Lá, a seca prolongada, a pobreza e a desnutrição contribuem para a perpetuação da doença.

Biografia:

 Charles Jules Henry Nicolle nasceu em 21 de setembro de 1866, na cidade de Rouen, onde seu pai era médico do hospital local. Ele recebeu de seu pai, junto com seus irmãos, ensinamentos em biologia e, após estudar no Lycée Corneille de Rouen, freqüentou a escola médica local por três anos, antes de seguir seu irmão mais velho, Maurice, que trabalhava em hospitais parisienses. (Maurice tornou-se, mais tarde, Diretor do Instituto Bacteriológico de Constantinopla e Professor do Instituto Pasteur, em Paris.)
Entretanto, Charles estudou sob orientação de A. Gombault na Faculdade de Medicina e sob a orientação de Roux no Instituto Pasteur (servindo ao mesmo tempo de demonstrador no curso de microbiologia) para completar a tese “Recherches sur la chancre mou" (Pesquisas sobre cancro mole), que lhe trouxe o título de Doutor em 1893. Ele retornou a Rouen para tornar-se membro da Faculdade de Medicina e em 1896 foi indicado como Diretor do Laboratório Bacteriológico. Permaneceu no cargo até 1903, quando foi indicado como Diretor do Instituto Pasteur de Tunis, posição em que esteve até sua morte em 1936.
Cedo em sua carreira, Nicolle trabalhou com o câncer, e em Rouen investigou a preparação de um anticorpo para a difteria. No norte da África, influenciado por ele, o Instituto de Tunis tornou-se um centro famoso mundialmente em pesquisa bacteriológica e em produção de vacinas e anticorpos para combater a mais prevalente doença infecciosa. Sua descoberta em 1909 de que o Tifo é transmitido por piolho o ajudou a diferenciar claramente a clássica epidemia de tifo transmitida pelo piolho do tifo marinho, que é transmitido ao homem pela pulga do rato. Ele também fez incalculáveis contribuições para o atual conhecimento sobre a febre de Malta, para a qual introduziu vacinações preventivas; “tick fever”, onde descobriu meios de transmissão; escarlatina, por reproduções experimentais com estreptococos; peste bovina, sarampo, gripe, por seu trabalho sobre a natureza dos vírus; tuberculose e tracoma. Ele foi responsável por introduzir várias novas técnicas e inovações em bacteriologia. Nicolle foi um dos primeiros a reconhecer as propriedades protetoras dos anticorpos convalescentes contra o tifo e o sarampo; e teve êxito na cultura de Leishmania donovani e Leishmania trópica em meios de cultura artificial. O descobrimento do mecanismo de transmissão do Tifo criou a base para a prevenção contra essa doença, durante a Primeira e Segunda Guerras.
            Nicolle escreveu importantes livros incluindo Le Destin des Maladies infectieuses; La Nature, conception et morale biologiques; Responsabilités de la Médecine, e La Destinée humaine.
Nicolle foi um associado da Academia de Medicina (l'Academie de Médecine) e ganhou o “Prix Montyon” em 1909, 1912 e 1914, além do “Prêmio de Osíris” em 1927 e da “Gold Medal” em 1928.  Foi também indicado como membro da Academia das Ciências, de Paris. Em 1932, ele foi eleito Professor na Universidade da França.
Charles Nicolle também gozou de considerável reputação como filósofo e como escritor de histórias infantis, como Le Pâtissier de Bellone, Les deux Larrons, e Les Contes de Marmouse. Jean Rostand disse que Nicolle era “um poeta e realista, um homem de sonhos e um homem de verdades”.
Nicolle casou-se com Alice Avice em 1895, e duas crianças foram fruto da união: Marcelle, nascido em 1896 e Pierre, nascido em 1898. 
Ele morreu em 28 de fevereiro de 1936.
Charles Nicolle e a sua descoberta:
Nicolle iniciou suas pesquisas em 1889 numa província francesa, na qual o tifo tinha desaparecido desde 1814.  No início de 1903, ele foi para a Tunísia, onde teve um contato imediato com o tifo.  As incidências de casos eram maiores nos subúrbios de Tunis.
Um dos maiores problemas no seu estudo foi o fato de o tifo ser ainda uma doença inexplorada: ninguém tinha conhecimento sobre as formas de contágio.  O campo de estudos experimentais era inexistente.  Charles se quer estava apto para concluir se, através dos debates experimentais, era possível que a doença fosse inoculada de homem para homem através do sangue.
Em junho de 1903, Charles decidiu levar a sério um estudo preliminar.  Naquele momento, detentos de uma prisão perto de Tunis estavam sendo acometidos pelo tifo.  Ele marcou uma visita com o médico responsável pelos presos, mas no dia anterior a esse encontro Nicolle  teve hemoptise e não foi.  Dois colegas seus foram, contraíram o tifo e ambos morreram.
A maioria dos médicos na Tunísia, especialmente os que trabalhavam em zonas rurais, contraíram o tifo e, aproximadamente, um terço deles morreram.  O fato de Charles ter sorte o suficiente para escapar da contaminação, apesar do contato quase que diário com doentes, era porque ele descobriu a tempo a maneira de contágio.
Um hospital em Tunis era o foco principal de suas pesquisas.  Freqüentemente Charles tinha que desviar os corpos de pacientes com tifo que estavam esperando sua admissão no hospital e caíam exaustos na porta.  Ele observou certo fenômeno no hospital, que ninguém havia ainda percebido, mas que chamou sua atenção.  Naqueles dias, doentes com tifo eram acomodados nas salas de espera dos médicos.  Antes de chegar à porta do consultório eles já haviam espalhado a doença.  Eles transmitiam o tifo para as famílias que acompanhavam eles e também para seus médicos.  Pessoas que trabalhavam na administração do hospital, os responsáveis pelas trocas de roupas e os trabalhadores da lavanderia também estavam sendo contaminados.  Apesar disso, a direção geral do hospital não admitia que os pacientes com tifo estivessem transmitindo a doença para outras pessoas.
Charles tomou essa observação como fio guia.  Ele se perguntava o que acontecia entre a entrada do hospital e o consultório e leitos e formulou o seguinte raciocínio: tiravam as roupas dos doentes, lavavam seus corpos e raspavam seus pêlos.  O agente contagioso devia ser algo que se unia ao seu corpo e suas roupas, algo que sabão e água não podiam remover.  Assim, Nicolle chegou a conclusão de que só podia ser o piolho.
Mesmo que não fosse possível reproduzir a doença em animais e, conseqüentemente, verificar a hipótese, a simples observação teria sido suficiente para demonstrar a maneira como a doença se propagava.
Felizmente, foi possível providenciar provas experimentais também.
As primeiras tentativas de transmitir o tifo em laboratório foram feitas em espécies de macacos pequenos e falharam.  Charles solicitou um chimpanzé, pensando que um antropóide seria mais suscetível à infecção do que animais de outras espécies.  No dia que o chimpanzé chegou, inoculou-se nele sangue de um doente e ele teve febre.  Inoculou-se também em um macaco (M. sinicus) o sangue coletado do chimpanzé enquanto este tinha febre, e aquele também desenvolveu febre.  Foram cultivados piolhos neste macaco, os quais foram transportados para outros macacos.  O último foi infectado e, subseqüentemente, provou estar vacinado contra um teste de vírus inoculado.
Estes experimentos decisivos não duraram muito tempo.  Nicolle reproduziu o tifo no chimpanzé em junho de 1909, em agosto ele demonstrou o papel desempenhado pelo piolho, e publicou os resultados em setembro com Charles Comte e Ernest Conseil.  Este foi o saldo de 1909.  Nos anos seguintes, ele reproduziu estudos experimentais da doença e das condições de transmissão mais detalhados.
No início das pesquisas, os únicos animais conhecidos suscetíveis à doença eram os macacos.  Todas espécies de macaco podem ser infectadas se for fornecida uma quantidade suficiente de vírus para se inocular através do peritônio.  O uso de macacos era bom por estes preservarem o vírus, mas eles eram animais caros.  Nos primeiros dois anos, estudos do tifo feitos durante as épocas de sua disseminação de homens para macacos e macacos para eles mesmos, foram satisfatórios. Logo, descobriu-se que o “guinea pig” também era suscetível à infecção, e isso fez com que, pelo terceiro ano consecutivo, se preservassem os vírus no animal.  Tornou-se mais fácil para Charles conduzir sua pesquisa independentemente de epidemias.  Do ponto de vista prático, a suscetibilidade à infecção do “guinea pig” provou ser a etapa mais útil para se seguir adiante.  Hoje, todos os laboratórios usam esse animal para preservar o vírus.
No homem o tifo se caracterizava por uma tríade de sintomas: febre, “rash” e sintomas nervosos.  Em animais, febre é o único sinal de infecção.  O fato de o vírus ser localizado mais particularmente no cérebro explica os sintomas nervosos encontrados na nossa espécie.
Charles Nicolle demonstrou as características da febre experimental.  Ela aparece após um período de incubação que nunca é menor do que cinco dias, e segue o mesmo padrão da febre “natural” no homem, mas tem uma duração menor e é menos pronunciada.  Segue-se um período de hipotermia, claramente aparente nos macacos, mas menos óbvio nos “guinea pigs”.  Nos macacos existem menos sintomas gerais e subseqüentemente há uma usual perda de peso.  No “guinea pig” a doença seria inaparente se a temperatura não fosse medida.
O vírus pode ser mantido indefinidamente injetando-o em “guinea pigs”.  Por essa razão, tecidos cerebrais proporcionam resultados mais constantes do que o sangue. 
Algumas vezes pode acontecer, especialmente quando se usa sangue, que em um grupo de “guinea pigs” inoculado com a mesma dose do mesmo produto, alguns deles não demonstrem sinais de febre.  Em primeiro lugar, Charles atribuiu esse fato a um erro técnico ou a uma resistência maior do indivíduo.  Repetidos resultados negativos impossibilitaram-no de continuar aceitando essas explicações demasiadamente simplificadas.  Animais para os quais o vírus é patogênico apresentam uma escala inteira de graus de susceptibilidade – da forma mais grave, geralmente fatal em adultos europeus, até a febre, revelada apenas pelo termômetro, no “guinea pig”, passando por todos os outros estágios intermediários: tifo do adulto nativo, tifo benigno em crianças, mais benigno ainda em macacos.  Nicolle gostaria de saber se não havia, abaixo da ligeira suscetibilidade do “guinea pig”, um grau ainda menor no qual o único sinal de infecção seria o sangue parasitado pelo vírus durante o período que animais se mostraram mais suscetíveis aos sinais característicos da febre.  Este era certamente o caso.  Charles Nicolle foi capaz de verificar esse fato em 1911.  Mais tarde ele voltou a estudar esse problema com Charles Lebailly.  Isso o conduziu a conceber o que ele chamou de infecções inaparentes.  Tifo apirético, sem sintomas, o tifo inaparente apresentado pelo “guinea pig”, é o primeiro caso descrito e o mais conhecido.
Tifo inaparente no “guinea pig” deve ser uma infecção primária do tifo, como foi o caso descoberto por Charles. Nesse caso, a causa é a inoculação de uma quantidade insuficiente de vírus para que fosse produzida febre.  Sangue de um “guinea pig” que contraiu tifo inaparente sempre produzirá tifo febril em outro “guinea pig” se for inoculada uma dose suficiente.  Com o resultado positivo dessa inoculação, Nicolle provou que de fato o primeiro “guinea pig” contraiu tifo, apesar da ausência de febre.
Verificando tifo inaparente em casos de infecção primária, tornou-se mais fácil para Charles Nicolle demonstrar a existência do tifo apirético (sem febre) em certos “guinea pigs” que foram reinoculados um tempo razoavelmente longo após contrair uma infecção primária do tifo febril (pirético).
Lebailly e Nicolle apressaram-se, então, em demonstrar que a infecção primária inaparente de tifo, a qual é  excepcionalmente inoculada em “guinea pigs”, é a única forma na qual a doença pode servir de experimento em ratos e camundongos.  Esta curiosa doença, que não apresenta sintomas, que tem um período de incubação e um período no qual o sangue provoca danos, e que confereum certo grau de imunidade, pode ser transmitida de um rato para outro.  Em duas ocasiões, Charles efetuou doze dessas tais transmissões.  Na décima segunda, tecidos cerebrais de ratos induziram tifo febril no “guinea pig”.
Este conceito novo das infecções inaparentes que Charles introduziu à patologia é, sem dúvida, a mais importante das descobertas que ele poderia ter feito. Na ausência da febre, no trabalho experimental do tifo, deve-se levar em conta a existência possível de formas inaparentes. Nós veremos que este conceito sozinho pode explicar a preservação do vírus na natureza e o reaparecimento de epidemias sazonais. Ele aplicou este conceito novo ao sarampo e a determinadas infecções do “spirochaete”, e Georges Blanc descobriu apenas a existência do dengue inaparente no homem, assim como no macaco e no “guinea pig”.
Assim a pesquisa de Charles Nicolle abriu um capítulo novo, a subpatologia, que é, sem dúvida, um campo vasto onde quase tudo remanesce por ser descoberto.
Soube-se por muito tempo que a infecção preliminar do tifo conferencia imunidade no homem em quase todos os casos e que esta imunidade dura uma vida. Charles estabeleceu que os animais de laboratório eram sujeitos a uma imunidade similar; mas demonstrou também que esta era de uma duração mais curta do que foi pensado. Embora benigno, o tifo inaparente conferencia também um determinado grau de imunidade.
Lucien Raynaud (de Argel) e E. Legrain (de Bougie) tinham usado o soro dos pacientes convalescentes do tifo pirético no tratamento do tifo. Conseil e Nicolle estabeleceram que este método não era eficaz. Na outra mão, eles demonstraram que esse soro dos pacientes convalescentes e dos animais que tinham se recuperado da doença, teve propriedades preventivas como considerável inoculação subseqüente do vírus. Depois destas descobertas, eles puderam instituir um método preventivo de encontro ao tifo, usando o soro dos convalescentes. Este método dá a proteção certa às pessoas no contato com pacientes do tifo, aos doutores e às enfermeiras. Provou ser particularmente eficaz nas pessoas, protegendo-as da contaminação por piolhos dos pacientes com tifo e que de outra maneira certamente contrairiam a doença. A imunidade conferenciada pelo soro é de duração curta, mas a inoculação pode ser repetida quando necessário.
O conhecimento das propriedades preventivas contidas no soro dos pacientes convalescentes do tifo conduziu Charles, junto com Conseil, a usar o soro feito no exame das crianças curadas do sarampo para impedir esta doença. Esta propagação do método de Tunis se espalhou por todo o mundo e conservou milhares de vidas.
Nicolle era mais ou menos bem sucedido em suas tentativas de efetuar a vacinação preventiva de encontro ao tifo usando o vírus, e em tentar produzir quantidades grandes do soro usando animais grandes.
Ele, certamente, teve sucesso em vacinar um número de povos, injetando doses muito pequenas, com casos repetidos de sangue venenoso e resultados particularmente melhores conseguidos com o tecido do cérebro do “guinea pig”. Entretanto, o método não é confiável e um elemento de perigo impossibilita toda a recomendação para generalizá-lo.
A prevenção do tifo pelo soro dos pacientes convalescentes pressupôs a  ocorrência de tal doença; além disso, a quantidade do soro fornecida por um convalescente é muito pequena. Embora útil, conseqüentemente, este método pode ser considerado somente como temporário. Se fosse possível produzir estas propriedades preventivas em um animal grande, a quantidade do soro obtida seria ilimitada e, preservando o vírus em “guinea pig”, seria assim possível produzir o soro requerido.
Nicolle tinha percebido que repetidas inoculações venenosas dos asnos não fizeram com que as propriedades preventivas apreciáveis estivessem desenvolvidas no sangue deste animal, mas ao tentar encontrar uma solução para o problema, ele tentou verificar se o asno, aparentemente resistente à doença, não poderia contrair o tifo inaparente, e ele encontrou que este era às vezes o caso. Porque o tifo inaparente não produziu nenhuma propriedade preventiva, ele esforçou-se então para produzir o tifo pirético no asno. Trabalhando primeiramente sozinho e mais tarde com Hélène Sparrow, Charles sucedeu pela inoculação intracerebral do vírus, mas somente em casos muito raros e sem poder determinar as circunstâncias necessárias para produzir resultados freqüentes. O soro do asno curado do tifo pirético possui propriedades preventivas. 
Ele era mais bem sucedido em seu estudo das circunstâncias em que a transmissão do tifo ocorre. Após claramente ter estabelecido o papel do piolho, Nicolle demonstrou o mecanismo detalhado da transmissão. Dois fatores são envolvidos: homem e piolho.
O sangue do paciente é venenoso, não somente durante a duração inteira da febre, mas também dois ou três dias antes que apareça e dois ou três dias após a temperatura cair. Durante este período inteiro, conseqüentemente, o piolho pode infectar outras pessoas através do paciente. As crianças fazem um papel importante na propagação do tifo. Conseil e Charles demonstraram que as crianças nativas, particularmente crianças muito novas, contraem uma forma benigna do tifo, às vezes leve, que pode somente ser detectado pelos resultados positivos obtidos da inoculação do sangue no macaco ou no “guinea pig”.
O papel do tifo inaparente nos casos de reinfecção é indubitavelmente mais importante. Este sozinho explica a preservação do vírus na natureza quando não há nenhuma epidemia e o reaparecimento sazonal das epidemias. Seria impossível compreender como o tifo poderia permanecer ativo se este dependesse do piolho que encontra continuamente povos diferentes para infectar. E se isto for evidente no exemplo do tifo, também é assim para o sarampo. Eles não tinham nenhuma dúvida de que haviam descoberto aqui a aplicação mais útil do conceito de infecções inaparentes.
Apenas como o único reservatório para o vírus do tifo na natureza é fornecido pelo homem, o único vetor da infecção é o piolho. A mordida do piolho não é virulenta imediatamente depois da picada. Torna-se assim somente no 7º dia que segue a infecção. No 9º e 10º dia a picada é venenosa. É conseqüentemente uma condição necessária que o vírus deva se multiplicar dentro do piolho para que se torne perigoso. Charles mostrou que esta multiplicação ocorre no intervalo digestivo e que as fezes do piolho se tornam venenosas no mesmo período que a mordida. Esta observação foi feita em 1910. Desenvolvida mais adiante, uma pesquisa mais detalhada empreendida conjuntamente com Georges Blanc em 1914, forneceu uma guia daquelas que empreenderam encontrar o organismo patogênico responsável para o tifo no intestino do piolho. Edmond Sergent (de Argel) foi o primeiro a descrever os corpos da inclusão, uma rickéttisia mais atrasada, nas fezes e nas células intestinal do piolho. Não sendo atraído à pesquisa puramente morfológica, Charles mesmo não estudou estes corpos de inclusão, significado o qual não é demonstrado claramente.
Nicolle demonstrou o fato mais importante de que o tifo pode ser transmitido através das fazes do piolho. Sujando a pele dos nativos; são inoculados facilmente riscando ou sujando os dedos, que são trazidos então no contato com o conjuntivo, que são os meios ideais da entrada para um vírus tão ativo.
Ele demonstrou finalmente que a infecção do tifo não é hereditária no piolho.
Estas observações deram forma à base da profilaxia do tifo. O pioneiro neste campo era Conseil, diretor do departamento da saúde pública em Tunis; que em três anos erradicou o tifo de uma cidade onde existiu ano após ano essa epidemia, desde o começo da história.  Em Gobert, em Cardaliaguet, e no Henry Particulares, o tifo foi eliminado das minas e das prisões e recuou aos distritos rurais remotos.  Da Tunísia o método se espalhou sobre o mundo.
Muito antes do começo da grande guerra as etapas do exame foram feitas, sob as instruções de Charles, no controle médico do instituto das tropas na África do norte. Nenhum nativo da África partiu para a Europa sem ter sido previamente examinado em busca de piolhos. Esta era a precaução, feita por todas as nações nas circunstâncias similares, que preveniram os exércitos do tifo. Embora os piolhos aparecessem e se multiplicassem nas trincheiras e se tornassem uma praga, esta foi a primeira vez na história do tifo que ele não fez parte do conjunto de uma guerra longa.
Se em 1914 nós fôssemos inconscientes da modalidade de transmissão do tifo, e se os piolhos infectados fossem importados para a Europa, a guerra não terminaria por uma vitória sangrenta. Terminaria em uma catástrofe inigualável, a mais terrível na história humana. Os soldados na parte dianteira, reservas, prisioneiros, civis, neutros mesmo, todo o resto da humanidade desmoronaria. Os homens morreriam aos milhões, como ocorrido infelizmente na Rússia.
E esta é a lição final de Charles Nicolle: o conhecimento da modalidade de transmissão do tifo ensinou ao homem que ele contém sobre sua pele um parasita, o piolho. A civilização livra-se dele. Se o homem regressar, deve permitir-se que se assemelhe a uma besta primitiva.  O piolho começa a se multiplicar outra vez e trata os homens como eles merecem, uma besta brutal.

Conclusão:

No ano de 1928, no qual Charles Jules Henri Nicolle foi laureado com o Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina, a sociedade científica finalmente reconheceu a nobre importância que este cientista legou à humanidade, prevenindo-a de uma grande catástrofe epidêmica que poderia ter assolado o mundo já na Primeira Guerra Mundial.
Além de termos ampliado nosso conhecimento sobre a vida de um grande pesquisador, sobre a doença do tifo e a sua transmissão, fomos engrandecidos pela oportunidade de realizar este trabalho, na qual fomos estimulados a ampliarmos nossos conhecimentos sobre a área da pesquisa científica, o que vem somente a contribuir na nossa formação médica.

Bibliografia:

Nobel Prize. Disponível em: http://www.nobelprize.org. Acessado em 12 de maio de 2006.
Wikipedia. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Tifo. Acessado em 12 de maio de 2006.
Só Biografias. Disponível em:
http://www.sobiografias.hpg.ig.com.br/CharJule.html Acessado em 12 de maio de 2006.
Orientadores:
Evania Araújo
Jorge Salton
 

Enviando